Quarto da Franckie

Eu sentia-me a desesperar, por mais coisas que eu lhe dissesse, por mais coisas que lhe prometesse, ele não parava de dizer que era maluco, que ia ser sempre assim. Não ia, eu sabia que não, ele estava a ficar melhor.
- Eu também tenho de tomar comprimidos Ethan.- disse, fazendo alguma ginástica para me conseguir sentar também.- se eu deixar de os tomar posso matar mais alguém.- encolhi os ombros.- mas não é por isso que eu não vou ficar boa, que eu não lhes vou mostrar que estou melhor.- disse.- há pessoas que tomam comprimidos para toda a vida e não são malucas.- soltei um suspiro.- pára de pensar essas coisas, tu estás e vais ficar bom. - toquei-lhe no queixo, tentando aproximar-me dele.- eu amo-te, com ou sem comprimidos, não estejas assim, por favor.

A minha cabeça já estava a latejar com muita força, já não sabia como conseguir controlar-me e parar de pensar em coisas que não devia. Fechei os olhos com força e aproximei-me dela até encostar a cabeça no seu pescoço abraçando-a. - Mas nunca vão acreditar em mim a sério - murmurei limpando os olhos

Eu não sabia mais o que fazer, já tinha tentado de tudo, já lhe tinha dito que o ia ajudar, que ele não era maluco como pensava, que íamos conseguir provar-lhes que ele estava a melhorar, mas nada parecia dar resultado. Eu antes conseguia acalmá-lo, não conseguia perceber o que se estava a passar agora. Suspirei quando se encostou a mim e deixei que o fizesse, abraçando o seu corpo também.
- Pára de dizer isso amor.- murmurei.- nós vamos fazê-los acreditar.- prometi.- acredita em mim, por favor, nós vamos conseguir.- apertei-o contra mim.- eu acredito em ti, eu vou fazê-los acreditar também, acredita em mim.- voltei a pedir.

-Eu estou melhor - voltei a murmurar com a cabeça encostada ao seu ombro e os olhos fixos não sei bem onde - eu estou, os remédios ajudam porque eu agora estou a tomar tudo como querem e tu ajudas porque sei que és real - murmurei - eu já nem vejo a minha irmã - senti a minha voz tremer por isso calei-me uns segundos e passei a mão pela bochecha - o que é que eles querem mais? - perguntei - não quero fazer dezoito anos e estar aqui - abanei a cabeça.

Se eu antes me sentia revoltada por ter de estar naquele sítio, sentia-me mais revoltada naquele momento pelo estado em que Ethan se encontrava, e tudo por causa deles. Só me apetecia sair disparada do quarto e ir fazê-los pagar por tudo. Nós melhorávamos, nós fazíamos o que eles queriam, porque é que eles eram os únicos que não viam isso? Porque é que eles queria tanto que permanecêssemos naquele lugar? Ninguém era feliz ali, pelo menos eu não era, e já tinha dado para perceber que Ethan também não. Fiquei calada enquanto ele falava, sentindo o meu coração apertar-se cada vez mais a cada palavra sua, e com um suspiro, fiquei a deslizar os meus dedos pelo seu cabelo.
- Eu não sei amor, eu também não os percebo.- acabei por dizer, encostando-o mais a mim.- mas nós vamos falar com a Anne, está bem? Ela vai ajudar-nos.- garanti.- tu sabes que ela vai fazer de tudo para te ajudar, nós vamos tentar tirar-te daqui antes de fazeres anos.- e a sua mãe, eu sabia que ela também nos ia ajudar, afinal, ela tinha dito que sim não tinha?- tu vais sair daqui antes de teres dezoito anos, acredita em mim.- nem que fosse a última coisa que eu fizesse, eu ia conseguir.- agora pára de chorar amor.- pedi baixinho, virando a cara para lhe beijar a testa.- eu prometo que isto vai passar.

Apenas assenti ao que ela disse quando falou sobre a minha tia e ajeitei-me ao seu lado ficando a olhar para o mesmo sítio, um ponto fixo qualquer. Apenas tive que fechar os olhos quando bocejei e fechei os olhos agarrando numa das suas mãos para lhe dar festinhas - ela gosta de nós - murmurei de olhos fechados. Encolhi os ombros, isso era o que eu pensava, podia muito bem estar apenas a fazer-nos pensar isso.

Continuei a fazer-lhe festinhas no cabelo, puxando também as mantas para cima de nós e só quando falou é que desviei o olhar para ele, apesar de estar com os olhos fechados.
- Pois gosta.- concordei com um sorriso e estiquei-me até lhe dar um beijinho leve nos lábios.- e nós também gostamos muito dela.- disse, sabendo que era verdade.- ela faz de tudo para nos ajudar.- murmurei, baixando o olhar para a minha mão que estava a ser acariciada pelos seus dedos e sorri, encostando-me por completo a ele, entrelaçando os nossos dedos.

Mordi a parte de dentro da minha bochecha quando ela disse que ela também gostava e assenti com a cabeça deitando a cabeça na almofada para a deixar mais à vontade. Encostei a testa ao seu braço e olhei para a não mão que agora tinha os dedos entrelaçados. - Ela não vai ajudar - murmurei - mesmo que gostes ela não vai ajudar.

Juntei as sobrancelhas quando ele se afastou, mas deixei que se deitasse, deitando-me depois ao seu lado, enquanto acariciava a palma da sua mão com o meu polegar. Virei a cara de repente para ele mal começou a falar e abanei a cabeça com um suspiro.
- Ela vai ajudar-nos Ethan, eu sei que vai.- murmurei.- ela ajuda-nos sempre, ela levou-nos a passear lembras-te? - sorri ao de leve, apesar de não ter muito boas recordações desse dia.- ela vai ajudar-nos.

Levantei a cabeça quando ela falou do dia em que Anne nos levou a passear - eu fugi pela janela da casa de banho descalço e estive desaparecido por dias e tu ficaste chateada comigo - abanei muito a cabeça - não quero lembrar-me - disse voltando a deitar a cabeça na almofada com ela encostada ao seu braço - se for para acontecer coisas más não quero que ajude.

Fiz uma pequena careta quando ele começou a falar precisamente daquilo em que eu estava a falar e soltei um pequeno suspiro, abanando a cabeça.
- Desta vez não vai acontecer nada de mal.- murmurei.- tu não vais fugir nem eu vou ficar chateada.- voltei a abanar a cabeça, aproximando-me dele até o abraçar.- eu não vou deixar que elas te levem para longe de mim outra vez.- mordi a parte de dentro da minha bochecha com força só de me lembrar.- a Anne vai ajudar-nos e vai correr tudo bem.- levantei a cabeça para o olhar.- está bem?

Olhei-a meio desconfiado e acabei por me sentar na cama de braços cruzados ainda a ponderar o que fazer. Elas estavam sempre a dizer-me para não o fazer e para ter cuidado com toda a gente, ninguém era de confiança. Olhei-a mais uma vez e mordi o interior da bochecha com força assentindo com a cabeça - pode ser.

Dirigi-lhe um pequeno sorriso quando me olhou todo desconfiado e acompanhei os seus movimentos com o olhar assim que se sentou na cama. Fiquei em silêncio ao perceber que estava a pensar e deixei que o fizesse, sorrindo depois com a sua resposta. Já era um começo. Estiquei os braços para ele, ainda com um sorriso e mexi os dedos, para que me viesse abraçar.
- Anda, vou dar-te miminhos.- sorri de forma fofa.- e vamos descansar que bem precisamos.

Como é que eu podia ouvir as vozes quando ela me dava tantos mimos, mesmo aquilo que eu precisava? Encostei a cabeça ao seu corpo quando me abracei a ela e tentei não ouvir o que me diziam enfiando a cabeça no seu pescoço. Era para isto que precisava dos meus medicamentos, apenas não os tomava à um dia e já estava a voltar a ficar como antes.

Sorri quando se abraçou a mim e voltei a puxar as mantas para cima de nós, aconchegando-o contra o meu corpo. Abracei-o também, ficando a passar os meus dedos pelo seu cabelo e virei a cara, roçando os meus lábios na sua bochecha até lhe dar um beijinho lá. Subi até à sua orelha, marcando o caminho com beijinhos e sorri contra a mesma.
- Eu amo-te.- sussurrei.- mais do que tudo.

Ri-me baixinho começando a encolher-me quando ela começou a traçar um caminho até à minha orelha e enfiei a cabeça no seu pescoço dando-lhe festinhas no braço enquanto me deixava estar de olhos fechados - eu também - murmurei dando-lhe um beijinho no queixo - mesmo a sério - disse muito sério.

Ri-me contra a sua orelha quando o ouvi fazer o mesmo enquanto se encolhia e continuei com as festinhas no seu cabelo, sorrindo depois com as suas no meu braço. Colei-me mais ao seu corpo, dando-lhe um beijo na testa e quando o ouvi falar, desviei o olhar para ele, voltando a rir-me baixinho com o seu ar sério.
- Ainda bem amor.- murmurei com um sorriso, esticando-me até aos seus lábios.- é muito bom ouvir isso.- confessei baixinho contra a sua boca.

Beijei-a quando ela fez o mesmo e enfiei a cabeça no seu pescoço fechando os olhos com um sorriso nos lábios. - Eu sei - disse com um sorriso convencido e suspirei baixinho. Estava a ficar cansado e ainda bem, assim dormia e não pensava em mais coisas que não devia. Dei-lhe um último beijinho na bochecha posicionando-me depois para dormir.

Ri-me baixinho do seu tom convencido e aconcheguei-nos aos dois deaixo das mantas, aninhando o seu corpo contra o meu. Percebi que ia dormir assim que me deu um último beijinho e por isso, virei a cara para lhe beijar a testa, ficando a fazer-lhe festinhas no cabelo.
- Dorme bem.- desejei baixinho, encostando a minha cabeça à sua de olhos fechados.

Abri os olhos depois de ter dormido um bocadinho e enfiei a cabeça no seu pescoço colocando quase todo em cima dela. Não há ninguém ali, não há ninguém ali, não há ninguém ali. Engoli em seco subindo o olhar até Franckie e apontei para debaixo da cama - podes espreitar? - perguntei encolhendo-me ligeiramente contra o seu corpo.

Eu estava de olhos fechados, mas a verdade era que não tinha tanto sono quanto pensava que tinha. Por isso mesmo, quando senti movimento da parte de Fly, voltei a abri-los, percebendo que tinha acordado.
- O que se passa? - perguntei visto que ainda à pouco tinha adormecido. Fiquei à espera da sua resposta, abraçando o seu corpo quando praticamente se pôs em cima de mim e só desviei o olhar dele depois de o ver apontar para debaixo da cama. Juntei as sobrancelhas, não percebendo muito bem o que queria, mas ele logo tratou de se explicar.- claro que posso.- assenti, afastando-o com cuidado de cima de mim. Ele era uma criança em ponto grande e era por isso que o amava tanto, nunca ia deixar de ter aquela sua inocência. Sorri, saindo da cama devagarinho e agarrada à mesma, coloquei-me de joelhos.- não precisas de ter medo amor, não vai estar nada ali.- disse, ainda a olhar para ele e depois debrucei-me, olhando para debaixo da cama como ele tinha pedido.- vês? Não está aqui nada.- voltei a olhar para ele, sorrindo para que descansasse e fiz alguma ginástica para voltar de novo para a cama, puxando-o para junto de mim.- só estamos aqui tu e eu.- virei a cara, dando-lhe um beijinho na testa.- não precisas de ter medo.

Agarrei-me às mantas puxando-as todas para cima de mim espreitando para o chão, mas não para baixo da cama, quando ela foi ver. Mordi o interior da bochecha nervosamente vendo-a sorrir e assenti com a cabeça devagarinho - Tens a certeza? - perguntei deitando-me na cama e arrastando-me com cuidado até à pontinha da cama deixando a cabeça cair levemente para espreitar lá para baixo. Rapidamente levantei a cabeça enfiando-me de novo dentro das mantas - então anda para aqui - encostei-me a ela colocando as pernas em cima das dela, com cuidado.

- Tenho amor, podes estar descansado.- murmurei quando me perguntou se tinha a certeza e ainda estava a subir para a cama quando reparei que estava todo enfiado debaixo das mantas. Pelos vistos tinha mesmo medo.- não está lá nada.- voltei a dizer, para o tentar descansar.- eu vi e juro que está vazio, não está lá nada nem ninguém.- disse e soltei um suspiro quando finalmente me consegui deitar, aquilo cansava-me mesmo. Virei a cara para Ethan assim que o senti encostar-se a mim e sorri, abraçando o seu corpo. Deixei que pousasse as pernas em cima das minhas e com algum esforço, entrelacei-as.- não tenhas medo, eu protejo-te.- murmurei baixinho, apertando-o contra mim, para que se sentisse seguro e dei-lhe um beijinho na testa.- ninguém te vai fazer mal, eu não deixo.

Fechei os olhos quando a sentir apertar-me contra ela e abracei-a com força também passando os dedos pelos seus braços. Apetecia-me tanto sair dali. Eu queria tanto. Suspirei sem vontade de estar onde quer que fosse e fechei os olhos. - Queres fugir comigo? - perguntei sabendo que era uma péssima ideia e que toda a gente ia reparar.

Sorri ao sentir as suas carícias no meu braço, mas logo fiquei mais séria quando o senti ficar ainda mais tenso. Juntei as sobrancelhas, baixando o olhar para ele e no preciso momento em que lhe ia perguntar o que se passava, ouvi a sua pergunta. Fugir? Ele queria fugir? Não era que não fosse uma proposta muito apelativa, mas..
- Fugir? - repeti num tom baixo.- fugir para onde? - toquei-lhe no queixo, fazendo-o olhar-me.