Sala de Estar

Sorri, mais contente, quando ela disse que gostava da casa da árvore e comecei a andar, devagar, até às três escadas que davam acesso à entrada. Encolhi os ombros para a responder à sua pergunta e mordi o interior da bochecha ao lembrar-me dos tempos em que ali tinha passado. - Sim - murmurei - com a minha irmã - completei subindo os degraus e entrando na sala. Não gostava de me lembrar, lembrar-me fazia ter saudades e eu não lidava bem com saudades.

Ainda que não me aguentasse muito bem em pé, tentei fazê-lo assim que Ethan se afastou de mim, seguindo-o depois, passo a passo, até à sala. Respirei fundo, tentando não cair mal senti as minhas pernas tremerem e, assim que consegui, sentei-me no sofá antes que caísse no meio do chão. Suspirei baixinho, ao ouvir Ethan falar da irmã e estiquei os braços para ele, sorrindo.
- E agora vens para aqui comigo.- disse, tentando aliviar o ambiente.- é um bom sítio para namorarmos, não achas?

Assenti com a cabeça face à pergunta de Franckie - sim - respondi puxando-a para o meu colo e quando olhei para trás vi a minha mãe a limpar a mesa. - isto era suposto ser para nós - disse num tom mais alto.
-Finjam que não estou aqui! Estou quase a acabar - disse ela com um sorriso que eu não conseguia ver, mas conseguia sentir. Revirei os olhos, baixando o olhar para a minha mãe, que agarrava a de Franckie.
-Consigo ver outra vez - disse baixinho.

Deixei que Ethan me puxasse para o seu colo, rodeando o seu pescoço com os meus dois braços depois de me ter ajeitado e juntei ligeiramente as sobrancelhas quando resmungou com a sua mãe, acabando por me rir com a resposta da mesma.
- Não te chateies com ela amor.- disse baixinho, esticando-me até lhe beijar a bochecha.- nós temos tempo para ficarmos sozinhos.- encolhi os ombros mas assim que ouvi o que Ethan disse depois, eu calei-me, acariciando a palma da sua mão com o meu polegar.- consegues ver? - repeti num tom baixo, sentindo tudo na minha cabeça fazer sentido pouco depois.- a tua irmã? - subi o meu olhar para o seu.- estás a vê-la de novo?

Suspirei aborrecido, por ela não nos deixar em paz, nem quando eu tinha ido para aquele sítio para estarmos sozinhos. Baixei o olhar para as nossas mãos sorrindo um bocadinho com as suas festinhas e fiz o mesmo à dela, levando-a depois à boca para lhe dar um beijinho. Assenti com a cabeça para responder à primeira pergunta de Franckie, mas assim que ela mencionou a minha irmã eu virei a cara para trás, tentando perceber se a minha mãe a tinha ouvido, mas não o deve ter feito visto que parecia entretida nas limpezas - sim, não fales - pedi, sabendo que mesmo ela falando baixo podíamos ser ouvidos.

Sorri levemente, assim que senti o beijinho de Ethan na minha mãe, mas não deixei que isso me distraísse do que estava à espera..a sua resposta. Juntei as sobrancelhas, quando o vi assentir e estava a preparar-me para falar, se não o tivesse visto olhar para trás, para a sua mãe. Calei-me, percebendo que não queria que ela ouvisse e suspirei baixinho, sendo a minha vez de assentir ao seu pedido. O que é que aquilo queria dizer? O facto de ele conseguir ver a sua irmã de novo? Significava que ele estava a piorar? Que termos vindo para esta casa só tinha feito com que Ethan voltasse à estaca zero? Tinha demasiadas perguntas na minha cabeça naquele momento, mas esperava que nenhuma delas estivesse certa. Encostei a cabeça, mantendo-me em silêncio, tal como ele tinha pedido, e fiquei apenas a olhar para os nossos dedos entrelaçados, tentando que aqueles pensamentos não me consumissem demasiado.

Olhei para trás vendo a minha mãe abrir as janelas e assim que percebeu que estava à espera que fosse embora ela suspirou. - Desculpem, eu sei que estou a chatear - desculpou-se - Fechem as janelas depois de saírem, que eu já estou de saída - assenti para que ela fosse embora mais rápido e, assim que o fez, eu voltei a olhar para Franckie, apenas encolhendo os ombros.
-Não é mau - murmurei - eu gosto, faz-me ter menos saudades. - encostei-me mais a ela puxando um cobertor para cima de mim quando me arrepiei, não sei se de frio ou de outra coisa.

Juntei as sobrancelhas ao ouvir a mãe de Ethan dizer que estava a chatear, e ainda lhe abanei a cabeça, mas ao olhar para Ethan, ela apenas se foi embora. Suspirei baixinho, acabando por voltar a concentrar a minha atenção no meu namorado e, antes que tivesse tempo para lhe dar na cabeça por ter afugentado a sua mãe, já ele estava a falar, dizendo-me que o facto de ver a sua irmã não era uma coisa má.
- Então, isso não quer dizer que estás a piorar? - perguntei baixinho, encostando o meu corpo mais ao seu quando o vi arrepiar-se.

Encolhi os ombros para responder à sua pergunta. Toda a gente dizia que eu tinha um problema, tinham-me diagnosticado o problema e eu sabia que alguma coisa se passava de vez enquanto, mas... Voltei a encolher os ombros com os olhos fixos nas minhas mãos - se ficar vão-me mandar outra vez para lá não vão? - perguntei baixinho e fui levantando lentamente o olhar para ela. - Não quero voltar Franckie.

Tal como seria de prever, nem Ethan sabia a resposta à minha pergunta. Sinceramente, a última coisa de que estávamos a precisar era de que ele piorasse, ainda que ver a sua irmã lhe fizesse bem, ou pelo menos era isso que ele dizia. Soltei um leve suspiro, despertando dos meus pensamentos assim que ouvi a sua pergunta, pergunta essa que me fez olhá-lo de imediato.
- Não, claro que não.- abanei a cabeça, tocando-lhe no queixo para o fazer olhar-me.- ninguém te vai mandar para lá de novo, os teus pais querem-te aqui, com eles e com o teu irmão.- assenti, encostando a minha testa à sua.- e tu não vais ficar pior, eu não vou deixar que isso aconteça.

Senti os meus olhos encherem-se de lágrimas e cheguei ao ponto de não conseguir vê-la de tão turvos que estava. Não sabia se era por ela estar a dizer aquilo ou por saber que ela estava a mentir, mesmo que não fosse isso que ela quisesse. Não desviei o olhar quando elas finalmente caírem, apenas me encostei-me mais ao sofá e rodeei o meu corpo com um dos braços enquanto o outro estava agarrado à sua mão. - Achas que a minha tia podia ajudar-me? - perguntei limpando as lágrimas que me fazia cócegas no queixo com o ombro.

Assim que vi os seus olhos encherem-se de lágrimas, por pouco os meus não foram pelo mesmo caminho. Odiava vê-lo naquele estado, e odiava-me ainda mais por saber que provavelmente estava assim por causa do que eu tinha dito.
- Amor, não chores, por favor.- pedi, passando as mãos pelas suas bochechas molhadas e cheguei-me o mais para ele que consegui, debruçando-me até lhe beijar a testa.- tu não vais sair daqui, esta é a tua casa.- murmurei, tentando ajudá-lo, mas acabei por me calar quando falou na sua tia.- ela ajudou-te sempre.- assenti, usando a mão livre para lhe acariciar a bochecha.- por isso sim, se achares que precisas de ajuda, ela é a pessoa certa.

Voltei a limpar as bochechas e desta vez, desviei o olhar, encostando a cabeça ao seu ombro enquanto olhava para os nossos dedos que estavam entrelaçados um no ombro - eles tiraram-me daqui uma vez - tive que dizer quando ela me disse que esta era a minha casa. - podem tentar a segunda - encolhi os ombros engolindo em seco. Levantei a cabeça quando ouvi o meu nome, pensando que tinha sido Franckie, mas ao vê-la com a mesma expressão de sempre, percebi que não. Só esta conversa me estava a deixar pior do que antes, estava ali para descontrair, não para entrar de novo em stress. Queria deixar de sentir aquilo. Passei a mão pelo cabelo e afastei-me de Franks para depois lhe pegar pelas mãos - vou mostrar-te o meu quarto.

- Eles trouxeram-te de volta Ethan.- murmurei, depois de o ouvir dizer que os pais poderiam voltar a mandá-lo embora.- eles querem-te aqui amor, fica calmo, por favor.- pedi, passando as pontinhas dos meus dedos pelo seu cabelo, assim que deitou a cabeça no meu ombro e virei a cara na direcção da mesma, depositando-lhe um beijo na testa. Se soubesse que ele ia ficar assim, nunca teria começado aquela conversa, ter-me-ia limitado a aceitar o facto de que ele voltara a ver a irmã. Afastei-me ligeiramente, quando o vi endireitar-se de repente e ainda pensei que fosse dizer mais alguma coisa mas, para meu espanto, limitou-se a levantar e a agarrar-me nas mãos, dizendo que me ia mostrar o seu quarto. Sorri levemente e, ainda que fosse estranho esta sua súbita mudança de humor, não disse nada. Se isto significasse que ele se ia acalmar, eu estava disposta a esquecer a conversa. Assenti, agarrando-lhe nas mãos para me levantar com a sua ajuda e, depois de o fazer, estiquei-me até lhe dar um beijinho.