Quarto da Franckie

Arregalei os olhos quando Ethan se sentou de repente e levantei o olhar para a porta, arregalando-os ainda mais quando vi uma enfermeira entrar no quarto. Ajeitei-me nas mantas, agarrando no braço de Ethan para que não se afastasse muito e suspirei.
- Pois devia.- disse baixinho.

Ela colocou os meus medicamentos em cima da estante dos meus livros e foi andando para trás, passo a passo até sair. Engoli em seco, estremecendo quando a porta abriu de novo - por acaso vocês podem estar assim? - perguntei apontando para nós os dois - um com o outro e isso tudo?

Fiquei a seguir todos os passos da enfermeira com um ar desconfiado e estava prestes a descontrair quando ela parecia ir embora, mas acabou por voltar para trás. Cerrei o maxilar com a sua pergunta, engolindo em seco e agarrei-me a Ethan de imediato, assentindo muito com a cabeça.
- Podemos.- murmurei.- vá embora.

Olhei para Franckie quando se agarrou a mim e enfiei a cabeça no seu ombro, vendo a porta ainda aberta pelo canto do olho - ela ajuda-me - bastou isto para que ela se fosse embora. Olhei-a meio assustado e abracei-lhe um braço, fechando os olhos de novo - quero sair daqui, vamos sair daqui?

Mordi o lábio já com o queixo a tremer só de a imaginar a mandar-me embora e agarrei-me muito a Ethan, fechando os olhos, pronta para ouvir o que menos queria. Por favor, por favor, por favor. Abri os olhos de repente quando ouvi a porta fechar-se e olhei para Ethan com o coração a bater desenfreado.
- Sim.- assenti muito com a cabeça.- vamos sair daqui.

Olhei os seus olhos vermelhos e passei o dedo pelos mesmos, beijando-lhe as duas bochechas e depois os lábios - eu não te deixava ir embora nem que me injetassem - olhei-a com um meio sorriso e comecei a levantar-me, encolhendo-me na minha roupa para ficar mais quentinho. Aproximei a cadeira da dela, esperando que se sentasse na mesma.

Fechei os olhos quando o seu dedo tocou nos mesmos e agarrei a sua camisola, assentindo devagarinho com a cabeça. Eu não queria ficar mais longe dele, eu não aguentava mais ficar longe dele.
- Eu só quero ficar contigo.- disse baixinho.- só contigo, mais ninguém.- murmurei e fui sentando-me na pontinha da cama para depois passar para a minha cadeira.

-E vais ficar - sorri-lhe um bocadinho, apoiando-me na cadeira enquanto a fazia andar. Abri a porta começando a andar pelos corredores com ela, não sabia para onde queria ir, mas isso não interessava, queria estar com ela só isso. Sorri levemente enquanto olhava para as suas pernas, tinha que a continuar a treinar. - preferes andar em chão liso ou na relva da rua?

Assenti com a cabeça, passando as mãos pelos olhos e recostei-me na cadeira enquanto olhava em volta à medida que andávamos pelos corredores. Olhei para cima, para ele, assim que ouvi a sua voz e ainda fiquei uns minutos a pensar.
- Relva, pode ser relva? - sorri ligeiramente.- quero sentir a relva.- assenti, como que a concordar com os meus próprios pensamentos.

Sorri quando escolheu a relva e assenti - sim, eu gosto da relva também - admiti apoiando-me na cadeira e empurrando-a para a frente, descendo a rampa que ficava do outro lado do jardim. Quando lá chegámos sorri quando arranjei um sítio bom para nós. Olhei-a e estiquei-lhe a mão - anda sentir a relva.

Era sempre a mesma coisa, sempre. Eu tentava de tudo parecer estar completamente bem, até dizia a verdade e tudo e quando chegava à hora de perguntar se faltava muito para sair dali diziam sempre a mesma coisa, tens que melhorar Ethan, tens que melhorar. Saí daquela sala de maxilar cerrado quase cego por causa das lágrimas que se tinham acumulado nos meus olhos e eu não tinha deixado cair e entrei no quarto de Franckie atirando-me logo para a cama.

Acabei por me deitar e fechar os olhos com um suspirinho. Não estava com sono, mas não tinha nada para fazer, por isso, ia aproveitar para descansar um bocadinho. Só esperava que a consulta corresse bem, a última coisa que queria era que ele ficasse mal por causa disso. Passado não sei quanto tempo, ouvi o som da porta abrir-se e antes de ter tempo para abrir os olhos, já só senti movimento na cama. Abri finalmente os olhos, olhando para o lado e juntei as sobrancelhas ao ver Ethan com lágrimas nos olhos. Sentei-me de repente, chegando o meu corpo para junto do seu e toquei-lhe com as pontinhas dos meus dedos no seu cabelo.
- O que se passa amor? - perguntei com o meu coração apertadinho.- o que é que eles te fizeram?

Deitei-me de barriga para baixo agarrado à almofada e com a cabeçava virada para a para o lado oposto a Franckie fungando baixinho. Mordi a parte de dentro da bochecha, que já estava tão saturada que começava a doer a sério, e encolhi os ombros sem conseguir falar ficando apenas a sentir as suas festinhas no meu cabelo.

Engoli em seco assim que ele virou a cara na direcção oposta a mim e suspirei, deslizando pela cama até me conseguir deitar e abraçar o seu corpo, sem parar com as festinhas.
- Amor..- chamei baixinho.- olha para mim.- pedi.- já passou, eu estou aqui.- deslizei os meus dedos pelo seu cabelo. Saber que ele estava a chorar dava cabo de mim.

Respirei fundo limpando a bochechas ainda sem pronunciar uma palavra e fechei os olhos deixando que ela se aproximasse, mas eu ainda estava demasiado sem fôlego para falar, mas quando o consegui fazer virei-me para ela agarrando-me à sua barriga - porque é que eu tenho que ser assim? - perguntei baixinho - eu tento ficar bem - murmurei.

Engoli em seco, com o coração prestes a saltar-me do peito e ia abrir a boca para lhe pedir de novo que se virasse para mim quando finalmente ele o fez. Deixei que se abraçasse a mim, chegando-me também o mais que conseguia para ele e passei as mãos pelas suas bochechas, juntando as sobrancelhas com o que ele disse.
- Assim como? - perguntei baixinho.- o que é que eles te fizeram Ethan? - perguntei, roçando os meus lábios na sua testa enquanto mordia a parte de dentro da minha bochecha com força. Eu ia matá-los, a todos.

Enfiei a cara no seu pescoço para que ela não me visse assim, não gostava quando ela me via assim, também me irritava lembrar-me que por tudo era sensível - assim - voltei a repetir passando as mãos pelos olhos, esfragando-os - maluco e atrasado - murmurei com o queixo a tremer- eu tento mostrar que estou melhor e eles não acreditam. - disse sendo algumas vezes parado pelos soluços.

Abracei o seu corpo com muita força quando escondeu a cara no meu pescoço, mas sem o aleijar claro. Suspirei com as coisas que dizia e abanei a cabeça, passando uma mão pelo seu cabelo.
- Tu não és nada disso amor.- murmurei baixinho. Sim, eu ia mesmo matá-los, a todos. Ninguém tinha o direito de o colocar assim.- os únicos malucos aqui são eles.- murmurei.- por não conseguirem ver como tu estás melhor.- afastei-me apenas um bocadinho para o fazer olhar-me.- tu estás melhor, eu juro que estás.- limpei-lhe as bochechas, beijando-lhe a testa.- e nós vamos conseguir provar-lhes isso.

Abanei a cabeça não conseguindo deixar que os meus lábios descessem para baixo formando um leve beicinho. - Eu sou - murmurei - e eu nasci assim vou morrer assim, nunca vou conseguir ser normal, nunca vou conseguir sair daqui - falei um bocadinho mais alto limpando as minhas bochechas.

Senti o meu coração despedaçar-se mal vi o seu beicinho e engoli em seco, abanando a cabeça. Como é que eles podiam dizer que só nos queriam ajudar quando só nos colocavam ainda pior?
- Amor, olha para mim..- passei as pontas dos dedos pelo seu beicinho.- a Anne não diz que tu estás melhor? Eu não digo que tu estás melhor? - toquei-lhe no queixo, virando a sua cara para mim.- não acreditas em nós? Tu estás melhor, não fiques assim por causa das coisas que eles dizem, eles não sabem do que falam.- suspirei.- tu estás a ficar bom, eu juro que estás, não estejas assim.- puxei-o para o abraçar.

Levantei a cabeça devagarinho para a olhar e engoli em seco assentindo com a cabeça às suas perguntas. - Não é o suficiente - murmurei encostando-me de novo a ela, abrançando-a já que tinha feito o mesmo. - nao é o suficiente para sair daqui - funguei - e mostrar a minha mãe que estou bem.

Baixei o olhar para ele quando o senti levantar o seu para mim e juntei as sobrancelhas enquanto o ouvia falar. E lá voltava a conversa sobre a sua mãe, e lá voltava a culpa que eu sentia. Engoli em seco, passando a mão pela sua bochecha e aconcheguei-o contra o meu corpo.
- Nós vamos arranjar uma forma de te tirar daqui, de lhes mostrar que estás melhor.- olhei os seus olhos.- eu prometo-te que vamos conseguir.- murmurei baixinho.- está bem amor? Eu prometo que vão todos orgulhar-se de ti como eu me orgulho.

Funguei baixinho agarrando com força a cintura dela. Abanei mais uma vez a cabeça e fechei as mãos em punhos - não vai ser o suficiente - murmurei limpando ad bochechas e puxei as mantas para cima do meu corpo - toda a gente vai chamar-me maluco nem nunca vao acreditar em mim. Ninguém vai, nem ninguém nunca acreditou.

Deixei que ficasse agarrado a mim, passando as mãos pelo seu cabelo numa tentativa de o acalmar e soltei um suspiro baixo. Já não sabia o que dizer para o tirar daquele estado, odiava que estivesse assim.
- Não digas isso, nós vamos conseguir.- assegurei.- eu vou falar com a Anne e nós vamos fazer tudo o que for preciso para eles acreditarem em ti.- murmurei, apertando-o contra mim.- não fiques assim, tu não és maluco e nós vamos conseguir provar-lhes isso.

Sentei-me na cama devagar limpando as bochechas e olhei para o chão que estava mesmo ao meu lado olhando depois para Franckie - se eu deixar de tomar os meus medicamentos fico pior, muito pior. Nunca vou deixar de ser assim - abanei a cabeça - vou ter sempre que ser agarrado aos medicamentos. Sou maluco. - voltei a passar as mãos pelas bochechas.