Quarto da Franckie

Fechei a porta atrás de mim e passei as mãos pelo cabelo, soltando um guincho, eu estava farta disto tudo.
- O que se passa? - e lá estava ela, ali, no meu quarto. Apenas a olhei, sem dizer nada e fui deitar-me na cama, cobrindo-me até cima para tentar adormecer, de preferência para sempre.

Olhei para John quando fechou a porta do meu quarto e funguei, passando as mãos pelas minhas bochechas, mais uma vez.
- Disseste que me ias levar até ele..- murmurei baixinho, ouvindo-o suspirar.
- Ele não quer estar contigo Franckie.- disse de uma vez, aproximando-se de mim para me ajudar a deitar na cama.
- Não! - gritei, abanando a cabeça.- ele quer, ele só precisa de acreditar, mas ele quer.- assenti a cabeça.
- Não Franckie, convence-te, ele não acredita em ti.- disse, agarrando-me pelos ombros. Abanei a cabeça e mexi-me de forma brusca, fazendo-o largar-me.
- Sai daqui, tu não sabes o que dizes.- berrei.- sai! - disse mesmo depois de deixar de o ver e peguei na primeira coisa que me apareceu, mandando-a contra a porta e ouvindo-a partir-se aos bocadinho.

Olhei para o pequeno pedaço de vidro que já se encontrava em frente dos meus olhos e passei a língua pelos lábios, deixando de me importar em limpar as lágrimas que continuavam a escorrer pela minha cara. Primeiro tinham sido os meus pais, e agora ele...eu ficava sempre sem todos aqueles de quem mais gostava. Solucei, provavelmente de forma demasiado audível, mas continuei de olhos postos naquele pedaço de vidro. Passei as costas da mão livre pela bochecha e depois, rocei a pontinha afiada do mesmo pelos meus lábios, mas não fazendo força suficiente para me cortar. Eu estava sozinha, eu estava de novo sozinha. Abanei a cabeça, sentindo a raiva a crescer dentro de mim e já só vi o sangue a escorrer-me dos braços. Soltei um gemido de dor, mas nada se comparava ao que sentia, ninguém queria saber de mim, eu estava sozinha. Continuei a deslizá-lo pelo meu braço, vendo um corte cada vez mais profundo e comprido.
- Hm..- gemi com uma careta e por mais que quisesse, já não conseguia controlar. Já era mais forte do que eu.

Olhei para as horas e respirei fundo, ainda faltava a Franckie e depois ia para casa ter com os meus bebés. Estava preocupada com ela, não a via há algum tempo. Bati à porta abrindo-a devagar quando não obtive resposta.

Não me fiquei apenas pelo braço, subi para o meu pescoço e no preciso momento em que perfurei a minha pele com o vidro, ouvi a porta ranger. Cerrei o maxilar, já anestesiada com tanta dor e olhei a porta.
- Deixem-me em paz! - rugi.

Abri a boca em choque quando vi o seu braço a escorrer.
-Franckie - chamei-a e sentei-me à frente dele agarrando-lhe no braço que estava a cortar - pára. - tirei-lhe o vidro da mão deixando-o cair para o chão e agarrei no meu telemóvel chamando uma enfermeira.

Arregalei os olhos quando de repente vi Anne à minha frente e quando me tirou o vidro das mãos, o meu corpo começou a tremer. A minha roupa estava toda suja e eu já só via sangue por todo o lado.
- Ele não acredita.- abanei a cabeça, abraçando o meu próprio corpo enquanto tremia.- eu não fiz nada, ele não acredita.

Passei as mãos pela sua bochecha molhada e meia suja com sangue e abanei a cabeça.
-Tem calma Franckie, já vais ficar bem - disse-lhe vendo a médica atrás dela de olhos arregalados. Eu olhei-a com um revirar de olhos quando pareceu estática e ela correu para ir buscar toalhas e alguma coisa para a cozer caso fosse preciso.

Continuei abraçada ao meu corpo e estremeci quando senti Anne tocar-me na bochecha. Abanei a cabeça, balançando-me ligeiramente e tentei parar o meu queixo que tremia a todo o custo.
- Ele tem de acreditar, diga-lhe que eu não fiz nada.- murmurei.- eu não fiz.- repeti.

-Tu não fizeste - abanei a cabeça e levantei-me puxando a sua cadeira até e ajudei-a a deitar-se colocando um pano debaixo do seu braço enfiando um seringa pela sua veia a cima para ela não sentir as dores. - Eu digo-lhe, agora ouve-me - agarrei-lhe na cara para que ela me ouvisse.

Deixei que me ajudasse a levantar e soltei um gemido baixinho quando senti o meu corpo embater na cama.
- Ah.- gritei quando algo perfurou a minha pele de repente e fechei os olhos com força, tentando controlar-me. Abri os olhos quando me pediu para a ouvir e olhei-a também.

Sentei-me ao seu lado e passei as mãos pelo seu cabelo sorrindo-lhe levemente.
-Está tudo bem, sim? - perguntei tirando a agulha da mão da enfermeira e eu própria a cozi - não está a doer pois não? - perguntei concentrada no seu braço.

Voltei a estremecer quando me tocou e agarrei-me às mantas, dizendo apenas que não com a cabeça para responder à sua resposta. Eu não queria mais comprimidos, não queriam mais medicamentos, eu só queria que parassem de me abandonar.

Quando acabei coloquei tudo numa taça e limpei o braço ligando-o depois.
-Dorme Franckie - disse baixinho - falamos amanhã sim? - perguntei para que ela me respondesse passando a mão pelo seu cabelo. - queres que eu fique até adormeceres?

Olhei para o meu braço com uma coisa branca e suspirei baixinho, enfiando-me toda debaixo das mantas.
- Eu não quero falar.- abanei a cabeça.- só quero que ele acredite.- o meu queixo tremeu.

-Eu ajudo-te, eu falo com ele, prometo - disse passando a mão pelo seu cabelo e sorri levemente à enfermeira que saiu. - Mas vais dormir hoje. - passei a mão pelo seu braço bom tapando-a bem.

Encolhi-me quando senti a sua mão no meu cabelo e escondi a cara dentro das mantas. Assenti apenas ao que ela disse, porque apesar de tudo, eu acreditava nela.
- Está bem.- disse baixinho.

Sorri colocando-lhe mais uma manta por cima e mordi o lábio com um suspiro. Ela era só uma criança, não merecia estar assim.
-Vou falar com ele agora. - disse mais para mim do que para ela e olhei para as horas fazendo uma careta. - Dorme bem.

Suspirei baixinho quando finalmente me senti ficar mais quentinha e fechei os olhos, agarrando-me às mantas.
- Obrigada.- murmurei muito baixinho, controlando-me para não começar a chorar de novo.

Sorri levemente por não se ter afastado e fechei a porta quando saímos, continuando a andar com ele pelos corredores.
- Não te assustes quando a vires, está bem? - olhei-o.- ela hoje andou a fazer coisas que não devia.- suspirei baixinho.

Olhei novamente desconfiado para Anne quando disse que Franckie andou a fazer coisas que não devia e abri a porta do quarto dela devagarinho vendo-a a dormir na cama. Mordi o lábio entrando devagarinho depois de largar a mão da médica e fiquei a olhar para o seu braço ligado.

Deixei que entrasse primeiro no quarto e entrei depois, mais devagarinho.
- Eu vou deixar-te sozinho com ela.- sussurrei, apesar de ela estar a dormir.- eu estou lá fora.- passei a mão pelo seu ombro e saí. Só esperava que isto não piorasse.

Não ouvi nada do que Anne dizia, apesar de ver a sua boca a falar e supôr que estivesse a falar para mim. Quando ela saiu do meu campo de visão eu dei passos pequenos até chegar ao pé dela. Toquei-lhe muito ao de leve no braço e abri ligeiramente a boca. Eu tinha feito aquilo. Não...
-Fra... - não falei, deixei que ela dormisse, se calhar até era pior se a acordasse. Deitei-me ao lado dela devagarinho e encostei a cabeça ao seu ombro beijando-lhe a parte boa do braço deixando-me adormecer.

Remexi-me quando senti movimento e por mais que não quisesse, os meus olhos acabaram por se abrir devagarinho. Suspirei baixinho e espreguicei-me ligeiramente, virando-me para o lado de repente, até que senti o meu nariz roçar em algo. Arregalei os olhos e mesmo no escuro, consegui vê-lo.
- Ethan..- sussurrei baixinho e o meu coração disparou, quase que me saltando do peito.- oh meu deus..- passei as mãos pelas bochechas e sem pensar mais, agarrei-me a ele.