Quarto da Franckie

Ri-me baixinho ao vê-lo e entrei na casa de banho depois. Tomei um duche rápido, dentro das minhas possibilidades e depois vesti o vestido que ele tinha escolhido. Ajeitei-me na cadeira enquanto secava o cabelo e depois de estar como eu queria, fiz uma trança que me caía pelo ombro. Sorri ao olhar-me ao espelho e voltei para o quarto.
- Estou pronta.- passei as mãos pelo vestido.

Fiquei a olhar para a porta da casa de banho todo o tempo em que ela esteve a tomar banho e sorri quando a mesma se abriu.
-Não - murmurei - tu não vais de cadeira de rodas. Não podes ir de vestido e de cadeira de rodas - disse abanando a cabeça e agarrei nela ao colo - vamos pedir-te umas moletas.

Arregalei ligeiramente os olhos quando ele começou a dizer aquelas coisas e já só tive tempo de me agarrar a ele.
- Mas assim eu vou demorar mais tempo a andar.- murmurei baixinho.- tu sabes como eu sou sem a cadeira.- subi o olhar para ele e não resisti a dar-lhe um beijinho no maxilar.

Revirei os olhos quando começou a ficar toda reticente e apenas encolhi os ombros começando a andar para fora da zona dos dormitórios. Fui até à entrada onde estava Anne e dei-lhe um beijo na cabeça.
-Estás todo sorridente - disse ela admirada. Sorri com um encolher de ombros e ela deu-me uma festinha na bochecha - porque é que a trazes ao colo?
-Queremos muletas, ela consegue, só vamos andar mais devagar. - Anne olhou-me reticente - a sério. - garanti e ela assentiu.
-Vou buscar.

Acabei por me calar quando me revirou os olhos e deitei a cabeça no seu ombro enquanto ele ia até à entrada. Levantei a cabeça quando vi Anne e sorri-lhe.
- Olá.- murmurei e mordi o lábio quando Ethan falou nas muletas. Até Anne tinha ficado reticente.- Ethan é me..- fechei a boca e voltei a calar-me antes que ele se chateasse.- vamos andar a passo de caracol, sabes disso não sabes?

Abri um sorriso com a sua pergunta e apenas encolhi os ombros.
-Não me importo, desde que chegues um passo fora daquele portão eu já me dou por feliz - olhei para Anne que tinha um sorriso enquanto nos olhava.
-Estão animados, eu gosto de vos ver assim - disse ela - vamos lá embora. Devagarinho - ajudei Franckie e entrar nas muletas.

Sorri com o que ele disse e foi-me impossível resistir a abraçá-lo. Eu quase que me atrevia a dizer que...nada, eu não me atrevia a dizer nada. Abracei o seu pescoço, dando-lhe um beijinho no mesmo e ri-me baixinho quando ouvi Anne, afastando-me devagarinho.
- Obrigada por nos ter ajudado.- voltei a agradecer e agarrei-me a Ethan quando me pôs no chão, enfiando os braços nas muletas e tentando manter-me de pé.

Decidi que ia ficar com ela, depois de avisar todos, fui ter com ela ao seu quarto, ele já estava desaparecido há oito horas, era demasiado, para um rapaz com os problemas dele, ele já estava fora à demasiado tempo. Passei as mãos pelo peito, preocupada, e acabei por deixa-las à frente da cara.

Mal chegámos à clínica fui logo para o meu quarto. Anne foi tratar de não sei quê por causa dele, mas eu não queria saber...tudo bem, eu queria, mas isso já não interessava mais. Pelos visto era isso que ele preferia, fazer as coisas por ele próprio. Atirei as muletas para o chão e enfiei-me na cama, cobrindo-me até cima e passando as mãos pelas bochechas enquanto fungava baixinho.

Bati à porta, mas acabei por abri-la devagarinho vendo-a na cama. Suspirei entrando e fechando a porta atrás de mim - Então...? - sentei-me ao seu lado e passei a mão pelo seu cabelo - vão encontra-lo Franckie não estejas assim.

Encolhi-me mais quando ouvi a porta a abrir-se e estremeci assim que a mão de Anne passou pelo meu cabelo.
- Eu pensava que ele gostava de mim.- solucei.- eu pensei que não íamos sair de ao pé de um do outro.- abanei a cabeça.- porque é que ele fez isto?

Suspirei por perceber que estava com aquilo na cabeça. Sinceramente duvida que Ethan tivesse feito aquilo, conseguia ver nos olhos dele que ela era a única coisa que o fazia feliz, aliás, não o via feliz há anos. - Franckie, acredita em mim, ele não fez por mal - disse-lhe ficando a dar-lhe festinhas no cabelo. - quando ele for encontrado vão resolver as coisas - o que mais me preocupava era a medicação, as horas estavam a passar e ele precisava de tomar aquilo para ficar pelo menos um pouco lúcido.

Passei as mãos pela cara e respirei fundo, tentando parar de chorar. Apertei as mantas nas minhas mãos e enfiei-me mais debaixo das mesmas, encolhendo os ombros, duvidando de que ela me via.
- Não há nada para resolver.- murmurei, fungando.

*quatro dias depois*
Nada, a policia tinha procurado por ele em todo o sítio, e não havia sinal. Não tinha conseguido trabalhar mais, a mãe dele estava em desespero a fazer pedidos para os jornais e a televisão e tudo. Ele estava em todos os canais, revistas e jornais. Tinha passado os dias com Franckie, ela não desistia daquela ideia, e eu, pela primeira vez não conseguia ter paciência para a fazer mudar de ideias. Passei as mãos pelo meu cabelo e mordi o lábio com os olhos a arder.

Já tinham passado quatro dias. Quatro dias sem receber notícias dele, quatro dias sem saber como é que ele estava sequer. Porque é que ninguém fazia nada? Porque é que não o traziam de volta? Passei as mãos pelas bochechas e tentei calar os meus soluços, tapando-me mais. Tinha passado este tempo todo na cama, não queria fazer nada, não queria falar com ninguém, sem contar com Anne. Eu estava preocupada, era certo, mas ainda não tinha esquecido o que ele tinha feito, nem ia esquecer. Funguei baixinho e quando me virei para o lado, olhei para Anne, juntando as sobrancelhas.
- Está a chorar? - perguntei baixinho. Eu também estava, mas nunca tinha visto assim.

Levantei o olhar para ela limpando as lágrimas que caíram de repente e abanei a cabeça respirando fundo indo sentar-me com ela - não - murmurei mordendo o lábio, mas logo deixei a minha cabeça cair deixando-me chorar - a culpa foi minha, eu devia ter reparado. - murmurei. - Tenho que o ir procurar - levantei-me de repente limpando mais uma vez a cara.

Fiquei com uma expressão ainda mais preocupada quando vi as suas lágrimas a escorrerem e fiz força para me sentar na cama, tocando com os dedos nas suas costas.
- Não chore.- pedi baixinho com os meus olhos a arderem também.- a culpa não é sua.- murmurei e quando se levantou de repente, dei um pequeno saltinho. Fiquei a olhá-la e dei por mim a ponderar ir com ela. Não era bem por ele, mas ela não estava em condições para ir sozinha.- eu também vou.- murmurei baixinho e puxei a cadeira para me sentar.

Assim que a vi ir para a cadeira a dizer que ia cominho, assoei-me e ajudei-a a sentar-se com cuidado. Não a ia proibir pelo simples facto de que ela gostava dela, e ela era a única pessoa que o acalmava, é que nem eu conseguia fazê-lo, pelo menos não de todas as vezes. - Está bem, anda - murmurei abrindo a porta.

- Obrigada.- sussurrei quando Anne me ajudou a sentar na cadeira e comecei a andar para a porta, saindo quando a abriu.- vamos procurar por onde? - perguntei baixinho, olhando para cima, para ela.

Ajudei-a a entrar no carro e dei a volta para eu também entrar, passando as mãos pelo volante sem o ligar. Abanei a cabeça com um suspiro e deixei a minha cabeça cair. - Não sei - admiti mordendo o lábio - ou... já sei - só esperava que estivesse certa - ele foi para a casa antiga dele - disse baixinho - é perto da placa.

Coloquei o cinto depois de entrar no quarto e esperei que Anne também entrasse para a poder olhar. Mordi o lábio e dei por mim a pensar em algumas hipóteses, mas a verdade é que não o conhecia assim tão bem para isso. Assenti quando falou na sua casa antiga e recostei-me no banco, ficando em silêncio.

Assenti com a cabeça deixando-me muito quietinho enquanto ela me levava para o seu quarto e abracei-me para me conseguir aquecer. - Eles não vão gostar -repeti algumas vezes muito baixinho enquanto olhava para baixo, para as suas pernas e lhe dava festinhas apenas com um dedo.

Baixei o olhar por breves segundos para as minhas pernas e mordi o lábio com força, vendo a minha pele arrepiada. Esquece Franckie, esquece. Abanei a cabeça, endireitando-me e continuei a andar em direcção ao meu quarto.
- Eles não interessam.- murmurei e abri a porta, entrando assim que lá chegámos. Fechei-a atrás de mim e olhei a minha cama, aproximando-me.- deita-te, já vais aquecer.

Olhei para ela e depois para a sua cama, fazendo depois o oposto. Eu gostava da cama dela, mas só com ela comigo. Assenti com a cabeça um pouco mais tarde e enfiei-me debaixo das mantas dela, encolhendo-me sobre mim próprio de olhos fechados. Agarrei-me às suas mantas e espirrei estremecendo logo de seguida.

Quando prometemos tomar conta de alguém, por vezes temos de ignorar os nossos próprios sentimentos, independentemente do quanto doa. Eu estava magoada com ele, mas eu tinha prometido que ia cuidar dele, acontecesse o que acontecesse, não podia quebrar a promessa. Fiquei a vê-lo deitar-se e fui devagarinho atrás dele, subindo depois para a cama. Eu sabia como ele ficava quentinho se eu lá estivesse, não queria que ficasse doente. Puxei as mantas para cima, puxando-o para mim e fiquei calada.