Ethan Grant

Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e atravessei todo o corredor até chegar à sala das visitas. Abri a porta, entrando e quando a vi lá, fiquei ainda mais confusa. O que é que ela estava ali a fazer? Ainda olhei em volta, à espera de ver outra pessoa que pudesse ser a minha visita, mas não, era mesmo ela. Era a mãe de Ethan.
- Queria falar comigo? - perguntei, num tom neutro. Só esperava que ela soubesse que não gostava dela, mesmo nada.

*mae fofa continua*
Engoli em seco mal a vi, sim era ela, a rapariga das outras vezes, afinal tinha razão. Olhei para ela, tendo noção que ela não deveria gostar muito de mim, imaginava o que ele lhe contava. - Eu queria falar contigo e por favor, não me vires as costas. - disse logo de repente.

Fiquei a alguns metros de distância da mulher e recostei-me na cadeira, de braços cruzados enquanto a olhava. Ainda não me tinha esquecido do que Ethan me tinha contado. Ela era má.
- Porque é que quer falar comigo? - levantei uma sobrancelha e tentei não suar muito bruta, não queria ser má educada, apesar de ter a fama de maluca.- não vejo o que é que temos em comum para falarmos.- era claro que sabia. Devia vir falar-me de Ethan, mas ela que não pensasse que eu a ia deixar fazer-lhe mal.

Sentei-me na pontinha de um banco, engolindo em seco e abanei a cabeça, nós tinhamos muito em comum.
-O Ethan, eu sei que ele só te ouve a ti, a minha irmã contou-me - passei as mãos pelas bochechas e engoli as lágrimas todas respirando fundo - Estou a ficar desesperada, eu venho aqui todos os dias, espero horas na esperança que ele me queira ver, mas até já acho que ninguém lhe diz nada, porque já sabe a resposta. Tens que me ajudar.

Se houve alguma coisa que me fez sorrir no meio daquilo tudo foi quando a mãe de Ethan disse que Anne tinha dito que Ethan só me ouvia a mim. Mas rapidamente voltei a ficar séria. Eu não percebia porque é que ela me estava a dizer aquilo tudo, era suposto eu ter pena? Depois de tudo o que ela tinha feito?
- As coisas não estavam assim se não tivesse feito tudo o que fez.- encolhi os ombros. Eu estava a ser fria, mas ela tinha-lhe feito mal, não me esquecia disso.- você não estava assim tão desesperada se não lhe tivesse dito todas aquelas coisas más.- abanei a cabeça com um suspiro.- não me parece que a possa ajudar.

Eu estava com esperanças, sabia que não ia ser fácil falar com ela, Anne tinha-me avisado, mas eu tinha esperanças. Juntei as sobrancelhas quando ela me começou a atacar e abanei a cabeça - eu.. eu não lhe fiz nada. O que é que estás a dizer? - perguntei-lhe - o que é que eu lhe disse?

Levantei uma sobrancelha quando ela começou a falar como se não soubesse o que tinha feito e revirei os olhos, cerrando o maxilar.
- Escusa de fingir que não sabe.- resmunguei.- mas se quer um exemplo, disse que não o amava, ou melhor, gritou.- senti-me ferver por dentro.- ainda não percebi como é que foi capaz de lhe dizer isso, mas a maluca sou eu pelos vistos.

Afastei-me ligeiramente quando a vi ficar vermelha, ela não estava a gostar nada de mim, se calhar... Não, tu consegues Grace, tu consegues. Senti o meu coração disparar com o que ela disse e senti as lágrimas todas a escorrerem pelas minhas bochechas - isso não é verdade, eu nunca lhe diria isso. Eu amo o meu filho. Ele é o único que eu tenho eu já perdi a Olli, eu não o quero perder mais a ele do que já perdi - agarrei na cadeira dela para que não fosse - acredita em mim.

Arregalei muito os olhos quando de um momento para o outro ela se agarrou à minha cadeira e já só vi as lágrimas escorrerem pelas suas bochechas. Das duas uma, ou ela era muito boa actriz, ou não tinha mesmo dito aquilo. Mas...o Ethan...
- Não foi isso que ele me disse.- murmurei, tentando não me demover com as suas lágrimas, nem sequer sabia se eram verdadeiras.- desculpe, mas eu acredito muito mais nele do em que si.- se é que chegava mesmo a acreditar alguma coisa.

Mordi o lábio para tentar segurar o meu queixo e abanei a cabeça, fazendo um esforço para me recompôr. - Franckie, é assim não é? - perguntei baixinho - Eu sei, que é dificil acreditar em mim - engoli em seco forçando-me a engolir também as lágrimas. - mas ele sofre de alucinações, eu sei que já viste. Eu juro por tudo o que é mais sagrado, que nunca lhe disse nada disso. Eu amo-o, ele é... - senti-me desabar novamente - ele é o meu menino.

Eu juro que estava a tentar continuar com o meu ar de má, porque no fundo, eu queria mostrar-lhe que o que ela tinha dito, ou o que supostamente tinha dito, não estava correcto. Mas ela parecia tão verdadeira a falar..suspirei, já sem saber o que fazer e assenti quando me perguntou se me chamava Franckie.
- Eu...- tentei interrompê-la, mas ela continuou a falar e a falar, deixando-me com o coração cada vez mais apertado.- eu não sei.- confessei baixinho.- eu sei das alucinações, mas...- mordi o lábio.- eu não sei.

Baixei a cabeça, deixando que os meus cabelos me tapassem parte da cara e limpei as lágrimas, tentando ficar com um aspecto mais normal, ainda bem que não tinha trazido maquilhagem, ja estaria com a cara toda preta se a trouxesse. Quando me senti melhor para falar, levantei de novo a cabeça e arrisquei em agarrar-lhe na mão - eu só quero falar com ele uma vez, sem que ele tenha um ataque. Eu não lhe quero fazer mal.

Eu não conseguia, o meu coração estava tão apertadinho só de a ver assim. A cada minuto que passava eu acreditava que tinham sido mesmo as alucinações de Ethan, ela parecia tão mal com isto tudo. Toquei-lhe com a pontinha do dedo no cabelo, mordendo depois o lábio com força quando me agarrou na mão, mas deixei-me estar.
- Se eu a ajudasse..- ponderei.- ia deixar-me estar presente?

Fiquei a olha-la, tentando perceber aquela sua pergunta e assim que percebi assenti com a cabeça - claro que sim - funguei limpando as bochechas de novo - eu não o vejo há três anos, eu só quero vê-lo e estar com ele e... Não sei, se ele ficar melhor eu queria leva-lo a sair ás vezes -dei-lha uma festinha na mão - tu vinhas connosco. Ele gosta de ti não é?

Tinham sido as alucinações, só podia. Se ela fosse tão má assim, não me deixava estar presente. Ela era boa. Toquei-lhe com um dedo na bochecha e limpei-lhe uma lágrima, suspirando baixinho. O Ethan precisava de saber que não tinha sido ela.
- Não chore mais.- pedi baixinho, odiava ver pessoas a chorar.- eu vou falar com ele.- prometi. Arregalei os olhos mal falou em sair e lembrei-me do que Ethan me tinha dito no jardim, que tinha saudades da praia, fazendo-me sorrir.- temos de ir à praia, ele tem saudades da praia.- disse mais entusiasmada e quando me perguntou se Ethan gostava de mim, assenti, com as bochechas a ferver.- eu acho que nós somos namorados.- disse baixinho.- ele disse que me amava.

Fechei os olhos quando me limpou as lágrimas e assenti com a cabeça assim que me pediu para que não chorasse mais. Eu bem tentava, mas agora que ela gostava mais de mim, só me apetecia chorar de felicidade. - Sim, vamos onde quiserem - assenti com a cabeça e levantei ligeiramente as sobrancelhas quando disse que eram namorados, sentindo um sorriso aparecer-me nos lábios. Ri-me puxando a cadeira mais para mim e abraçando-a. - Obrigada Franckie.

Sorri quando finalmente vi um sorriso da sua parte, mas rapidamente arregalei os olhos quando me abraçou de repente. Ela era mesmo parecida com Anne, sem ser ela e Ethan, mais ninguém me dava abraços assim. Mordi o lábio, acabando por voltar a sorrir e abracei-me a ela, encostando a cabeça no seu ombro. Isto fazia-me ter saudades da minha mamã.
- Não agradeça.- murmurei baixinho.- eu estou a confiar em si.

Afastei apenas a minha cabeça do seu ombro, continuando meio abraçada a ela - e obrigada por isso. Eu fico feliz que estejam juntos, eu sei que lhe fazes bem - sorri passando as mãos pelas bochechas que tinham caído de novo - podes falar-lhe de mim com calma? Ele vai ouvir-te.

Suspirei baixinho assim que me voltou a agradecer, mas não disse nada, sorrindo muito quando disse que eu lhe fazia bem.
- Ele também me faz bem a mim.- assenti.- mesmo muito bem.- mordi o lábio para não começar aos suspirinhos e assenti com a cabeça à sua pergunta.- não se preocupe, eu falo, eu prometo-lhe.

Sorri levemente quando a vi quase a suspirar e os seus olhos muito brilhantes. - Ele é um bom rapaz - assenti com a cabeça - eu sei que é. É igual ao pai - sorri levemente. - Obrigada - agarrei-lhe na mão e respirei fundo - ando a tentar falar com ele há tanto, mas há tanto tempo. - suspirei.

Mordi o lábio com força e revirei os olhos a mim própria, endireitando-me para tentar parar de estar com ar de parvinha apaixonada. Apesar de ser assim que eu me sentia.
- Pois é.- murmurei baixinho, enquanto assenti e baixei o olhar para a sua mão a agarrar na minha, fazendo-lhe festinhas na dela.- não precisa de agradecer.- repeti.- ele precisa de si.- subi o olhar para ele.- eu sei que ele tem saudades dos seus miminhos.- encolhi os ombros.- apesar de achar que foi você que lhe disse aquelas coisas feias.- fiz uma careta.

Mordi o lábio nervosamente quando falou nas coisas que eu supostamente lhe disse e abanei a cabeça com um suspiro - eu nunca lhe faria mal, sabes o que é que ele estava a fazer antes de o trazer para aqui? - perguntei baixinho - eu estava tão ou mais desesperada do que estava agora, ele assustou-me tanto.

Fiquei a olhá-la enquanto falava e senti o meu coração apertar-se ainda mais só de imaginar o Ethan antes de vir para cá. Isso e o sofrimento de ambos, não devia ter sido mesmo nada fácil.
- Não pense mais nisso.- disse baixinho.- ele vai ficar bom, eu vou ajudá-lo.- e ia mesmo, nem que fosse a última coisa que eu fazia.- e quando ele falar consigo, quando ele perceber que o ama e que não lhe disse nada daquilo, vai tudo melhorar.- sorri levemente.- eu sei que sim.

Eu sei que ela não me perguntou o que é que ele estava a dizer, mas eu apennas abanei a cabeça e continuei - ele estava a tentar matar o carteiro "porque estava a fazer mal à irmã." - mordi os cantos dos lábios para não voltar a chorar a respirei fundo - antes já tinha tinha morto o cão dele, ele adorava aquele cão - abanei a cabeça limpando a cara - Eu fiquei desesperada e quando o pus aqui já era demasiado tarde para voltar atrás.

Quando percebi que a mãe de Ethan me ia contar qualquer coisa, recostei-me na cadeira, ficando atenta a ouvi-lo. À medida que me contava mais coisas, o meu coração apertava-se, só de tentar imaginar o estado de Ethan, se bem que eu fazia uma pequena ideia. Não era nada agradável, diga-se. Mordi o lábio com força mal senti o queixo tremer e abanei a cabeça a mim própria, proibindo-me de chorar, já bastava ela. Estiquei-me na cadeira, de forma a ficar mais perto do seu corpo e voltei a puxá-la para a conseguir abraçar.
- Não vai ter de o ver mais assim.- murmurei baixinho.- nós vamos ajudá-lo, não vamos? - não esperei pela resposta.- ele vai ficar bem.