Jardim

Eu não o julgava por me ter deixado sozinha, aliás, nem podia. Só ele sabia o que era ter umas vozes dentro dele que o mandavam fazer as coisas, mesmo sem ele as querer fazer. Remexi-me quando senti uma coisa molhada correr-me pela bochecha e levantei a cabeça de repente, olhando-o preocupada.
- Ethan..- murmurei baixinho, levantando o seu olhar para mim.- não chores.- pedi baixinho, beijando-lhe as lágrimas.- está tudo bem, já passou, nós estamos juntos.- assenti, olhando-o.- não chores.

Mordi o lábio com força quando ela me fez olha-la e assenti com a cabeça puxando-a mais para mim - está bem - murmurei virando-me para ela - desculpa - limpei a cara e encostei-me a ela de novo, fechando os olhos. - Tenho saudades da praia - murmurei mesmo muito baixinho.

- Não peças desculpa.- murmurei baixinho e beijei-lhe a testa, abraçando-me a ele. Eu só queria estar assim, abraçada a ele, a senti-lo junto de mim. O tempo estava bom, o sol que batia sobre o nosso corpo, fazia-me estar quentinha.- tens? - perguntei quando falou na praia.- podíamos pedir à Anne para ir lá connosco.- sorri.- assim matavas as saudades.- fiz-lhe festinhas no cabelo.

Virei a cara para ela, engolindo em seco e abanei a cabeça, depois da minha fuga eu sabia o que pensavam de mim. Não estava preparado para lidar com o dia-a-dia. Já tinha acontecido uma coisa parecida comigo, não tão grave, mas parecida e recebi um papel a dizer exactamente isso, que não estava preparado para ligar com o dia-a-dia e que só deveria sair desta clinica para o hospital, se me acontecesse alguma coisa. Agora tinha tentado outra vez e tinha deitado tudo a perder. - Não vão querer deixar a Anne levar-me.

Continuei a olhá-lo com o meu sorriso, mas mal o ouvi falar, fiquei mais séria e a olhá-lo com uma expressão meia preocupada.
- Porque é que não vão deixar? - perguntei baixinho, mas rapidamente percebi, achava eu.- por causa de teres fugido? Mas não foste tu.- suspirei baixinho.- eles têm de deixar.- resmunguei.

Encolhi os ombros com as suas perguntas, eu percebia, já era arriscando andar com malucos por aí, e ainda por cima com malucos que não estava prontos para andar pela cidade... - Eu não me importo - menti - não faz mal - abanei a cabeça olhando-a mas rapidamente desviando o olhar.

Revirei os olhos quando se atreveu a mentir-me e obriguei-o a olhar para mim, fixando os meus olhos nos seus.
- Já devias saber que eu sei quando mentes.- resmunguei baixinho, mas sem estar zangada.- eu tento falar com a Anne, e mesmo que eles não deixem, não vão dizer que não para sempre, não é? - olhei-o.- eles vão acabar por deixar.

Olhei-a com um suspiro e assenti com a cabeça, sentando-me na relva - eu vou morrer aqui - disse baixinho - eu sei que nunca me vão deixar sair - olhei em volta passando as mãos pelo cabelo, antes que começasse novamente a chorar, não queria assusta-la, mas estava sensível, tinha saudades do mundo lá fora, já tinha passado aqui mais tempo do que lá.

Afastei-me ligeiramente para que ele se pudesse sentar mas não resisti e acabei por fazer força para me sentar também a seu lado.
- Tu não vais morrer aqui coisa nenhuma, eu não vou deixar.- murmurei, tocando com os meus dedos no seu pescoço.- tu vais ficar bom e nós vamos os dois sair daqui.- assenti, apesar de ele não ver.- vamos sair daqui e vamos namorar muitas vezes na praia, eu prometo.

Olhei-a assentindo apenas para a descansar. Depois de tanto tempo aqui fechado eu não sabia de nada, já estava bastante pessimista, mas se calhar era melhor assim. - eu gostava de namorar na praia - disse baixinho passando os meus dedos uns pelos outros. - nem fugir contigo posso, estão todos de olho em mim.

Baixei o olhar para as suas mãos e agarrei numa, entrelaçando os meus dedos nos seus, eu ia conseguir ajudá-lo, eu ia mesmo.
- Nós vamos namorar na praia, um dia nós vamos conseguir.- estiquei-me para lhe dar um beijinho no maxilar.- e enquanto isso, podemos namorar no jardim.- sorri.- não é tão bom, mas é melhor do que nada.- disse com o meu ar inocente.

Virei-me para o seu corpo, olhando para as nossas mãos e coloquei a livre por cima das mesmas, com um suspiro, sorrindo depois com o que ela disse.
-Também é bom - assenti olhando em volta para ver se alguém nos via e como ninguém o fazia, pelo menos acho eu, aproximei-me dele até a beijar.

Olhei-o com um sorrisinho maroto quando se começou a aproximar de mim e aproximei também a minha cara da sua, passando as pontinhas dos dedos pela sua bochecha assim que senti os seus lábios nos meus. Cheguei-me mais para ele, beijando-o, e quando o beijo cessou, encostei a minha testa à sua.
- Vai ficar tudo bem, eu prometo.- olhei os seus olhos.- confias em mim, não confias? - perguntei mais baixinho contra os seus lábios.

Olhei os seus olhos assim que ela fez o mesmo e assenti com a cabeça para responder à sua pergunta - sim - disse baixinho - sim - assenti mais convicto. Estremeci afastando-me dela quando ouvi passos e ao levantar a cabeça vi uma enfermeira.
-Franckie, tens uma visita. - juntei as sobrancelhas com um suspiro e olhei para Franckie.
-Vai, eu fico aqui. - A enfermeira abanou a cabeça.
-Não, tu vais para o teu quarto, está na hora da tua medicação. - olhei para a enfermeira irritado e cruzei os braços.
-Eu quero ficar aqui, ainda é cedo.

Sorri quando disse que confiava e apertei ligeiramente a sua mão, esticando-me para lhe dar mais um beijo no preciso momento em que ouvi uma voz atrás de nós. Dei um pequeno saltinho, afastando-me e olhei para trás, para a enfermeira.
- Uma visita? - fiz uma cara estranha.- para mim? - murmurei confusa, mas acabei por me levantar, sentando-me na cadeira e olhei para Ethan, mimando um ''tem calma'' com os lábios.- não seja má para ele.- resmunguei com a enfermeira, olhando para ela.- se ele quer ficar aqui, deixe-o ficar aqui.- cerrei o maxilar e voltei a olhar para Ethan.- eu depois venho ter contigo, sim?

Fiz-lhe cara de mau quando Franckie pediu para ela não ser má comigo e ela suspirou.
-Só estou a tentar que ele tome a medicação à hora certa, não pode andar desregulado - olhou para Franckie - ele vai ter que ir - começou a vir na minha direcção, fazendo-me rastejar para trás, visto que ainda estava sentada.

Revirei os olhos para a enfermeira e abri a boca para falar no preciso momento em que ela se começou a aproximar de Ethan. Cerrei o maxilar, já com as bochechas a ferver e num movimento rápido agarrei-lhe no braço de forma brusca.
- Nem pense.- murmurei de dentes cerrados.- eu já disse para o deixar ficar aqui.- disse, apertando-lhe o braço com alguma força. Quando o assunto era o Ethan, eu não me conseguia controlar.

Levantei-me quando vi que Franckie lhe tinha agarrado no braço e tive a sensação que era melhor me ir embora dali, mas não a ia deixar, ainda estava suficientemente racional para pensar nela. A enfermeira fez uma careta de dor e colocou-se de joelhos para lhe tentar falar - queres que o teu namorado fique bem? - perguntou-lhe. - Ou queres que ele voltou a fugir?

Segui todos os movimentos da enfermeira com o olhar e olhei para baixo assim que ela se colocou de joelhos à minha frente. Fiquei a olhá-la com atenção e mal falou, revirei os olhos. Ela sabia muito bem a resposta.
- Não vá por aí.- resmunguei.- ele fica bom se o deixar ficar aqui mais um bocadinho, ele não vai fugir mais.- murmurei segura das minhas próprias palavras.

-Isso não é verdade - agarrou na mão de Franks e tirou-a do seu braço com algum esforço, voltando a levantar-se - sabes muito bem que os horários têm que ser compridos- levantou o olha na minha direcção - Vem Ethan, depois voltas. - prometeu-me.
Antes que Franks se passasse eu assenti, apesar de não querer sair dali. Quando a enfermeira deu um passo em frente eu afastei-me dando uma volta para que não me viesse tocar. - Eu vou. - murmurei.

Eu juro que não me estava a aguentar. Mais duas palavras vindas daquela boca eu jurava a mim mesma que dava cabo dela. Ela irritava-me, ela e todas as outras, sempre a achar que sabiam tudo o que era melhor para nós. Se realmente soubessem, não nos prendiam ali dentro. Olhei de repente para Ethan quando o ouvi dizer que ia e fiquei ligeiramente surpreendida, mas não disse nada, recostando-me na cadeira. Pousei as mãos nas rodas e apertei-as quando a vi aproximar-se dele.
- Ele vai, não precisa de lhe tocar.- resmunguei.- por isso, não toque.- mandei e olhei para ele.- eu vou ter contigo depois, eu prometo.- dirigi-lhe um pequeno sorriso e dei meia volta. Ainda queria saber quem é que me vinha visitar. Os meus pais não eram de certeza, pois.

Revirei os olhos com aquilo que ela disse e ri-me cinicamente - Caso ainda não tenhas visto, quem está em apuros e precisa da minha ajuda és tu. Portanto és uma bruxa má daquelas bem fracas que nem sabe fazer nada e eu sou o principe. - pisquei-lhe um olho enquanto sorria.

- Desculpa lá se preciso da tua ajuda. - disse com um revirar de olhos. - Pensei que já que vieste para aqui querias alguma "animação" na tua vida, estou a dar-te isso não chega? - perguntei com um suspiro. - Que principe tão fixe, coitados dos principes se todos eles forem como tu. - dei-lhe a língua de fora.

Revirei os olhos e cruzei os braços no meu peito - Então vai à procura de um principe fixe. Nenhum atura uma bruxa como tu, eu é que tenho uma grande paciência. - abanei a cabeça e continuei a andar pelo jardim - És tão chata que credo, eles fogem todos a sete pés.

Revirei os olhos e depois dei uma gargalhada com o que ele disse. - Ai fogem? Então porque é que tu não foges também se sou assim tão chata? - perguntei olhando-o de relance.