Quarto da Franckie

Passei as mãos pela cara, fungando baixinho e acabei por soltar um soluço, vendo-o desaparecer no corredor. Fui fechar a porta, encostando a cabeça à mesma e abanei a cabeça, com o queixo a tremer. Eu só queria poder estar bem com ele, como tínhamos estado nestes últimos dias, mas..eu sentia-me usada, não conseguia esquecer isso. Acabei por me desencostar, aproximando-me da cama e levantei-me, agarrada à cadeira. Passei uma das mãos pelas bochechas e bastou esse movimento para me desequilibrar e cair no chão. Soltei um gemido, levando uma mão à cabeça e suspirei. Funguei, virando a cara e mal o fiz, vi um objecto caído debaixo da minha cama. Fiz uma careta estranha e estiquei-me, agarrando-o. Era um caderno. Passei as mãos pelo mesmo, para retirar o pó e quando olhei para a capa, o meu coração apertou-se. Era dele.

-Ethan? - chamaram-me, eu abri os olhos e olhei para os lados, apesar de não me mexer.
-O que é que estás a fazer debaixo da cama? - era Anne. - Ethan, sou eu - eu encolhi os ombros, não sabendo se ela me via. Senti uma mão cuidadosa no meu ombro e escorreguei pelo chão, ficando depois a olha-la.
-Ela pensa que eu a abandonei porque quis - murmurei sentindo o meu queixo a tremer, agarrando-me depois à minha tia quando senti as lágrimas a cair.

Encostei a cabeça à cama, pousando o caderno nas minhas pernas e abri-o com cuidado, vendo tudo o que lá estava escrito. Eram frases, eram frases e desenhos. A maior parte dos desenhos eu não conseguia perceber muitos bem, mas...as frases, as frases pareciam ordens, era como se...as vozes, sim, eram ordens das vozes. Eu lembrava-me do que Anne me tinha dito, de que as vozes o controlavam. Passei as mãos pelas bochechas quando o queixo tremeu e estagnei numa página. Eu conseguia perceber aquelas frases, eu conseguia perceber ao que se referiam. Abanei a cabeça, tapando a boca com uma mão e encolhi-me. Não tinha sido ele.

-Tem calma - murmurou depois de me conseguir acalmar sem medicação. Era uma coisa que gostava nela, ela não me enchia de quimicos. Enrosquei-me melhor nela e fiquei a olhar para a minha estante, ainda agarrada ao meu livro.
-Eu não sei o que fazer e à bocado estava chateado e fui embora - murmurei - ela ficou pior - mordi o lábio.
-Ela vai perceber Eth.

Eu era tão estúpida, tão estúpida. A culpa não tinha sido dele, tinham sido as vozes a fazer tudo, tinham sido as vozes a obrigá-lo a deixar-me, tinham sido as vozes a controlá-lo, tal como ele me tinha dito. Abanei a cabeça, apertando os meus cabelos nas minhas mãos e soltei um grito. Ele devia estar a odiar-me agora, eu não tinha acreditado nele e tinha dito aquelas coisas todas..
- Não.- abanei a cabeça e atirei o seu caderno para longe, agarrando-me às mantas para me levantar. Ia caindo quando os cobertores caíram de tanta força que eu fazia, mas nada me impediu de me levantar e sentar-me na cadeira. Eu morria se ficasse sem ele por causa disto, se ficasse sem ele por causa delas. Passei as costas das mãos pelas bochechas de forma brusca e abanei a cabeça, saindo do quarto. Eu não o podia perder, não podia. Apertei as rodas nas minhas mãos e conduzi a cadeira em direcção ao seu quarto, parando junto à porta assim que lá cheguei. O meu queixo tremeu mal imaginei como ele estaria e encostei a cabeça à porta, fungando.- Ethan? - chamei baixinho, mas de modo a que ouvisse, se é que estava ali.

Anne precisava de ir embora, mas mesmo assim estava ali comigo. Ajudou-me a ir para a minha cama gelada e quando me queixei foi buscar um cobertor para por debaixo, assim aquecia. Encolhi-me na cama recebendo festinhas no cabelo e quando senti o meu queixo tremer, enfiei-me dentro das mantas novamente. Mais uma vez ela tentava acalmar-me, mas só conseguiu quando ouvi a voz de Franckie do outro lado da porta.
- É ela - murmurei muito baixinho com voz de choro. Anne assentiu e eu voltei a puxar as mantas para cima da cara.
-Vou abrir Ethan - disse ela e antes que pudesse responder, ouvi a porta a abrir.

Com o tempo que demoraram a abrir, ainda pensei que não estava mesmo lá ninguém, mas assim que Anne apareceu, o meu queixo tremeu.
- O Ethan? - perguntei baixinho e assim que espreitei, vi-o deitado na cama. Passei as mãos pela cara e subi o olhar para Anne, vendo-a toda turva.- posso falar com ele?

Encolhi-me quando ouvi a sua voz e fiquei a olhar para a parede, estava virado de costas para a porta, mas quase que conseguia visualizar o momento - Podes Franckie, mas tem cuidado - passei as mãos pela cara e fiquei encostadinho e bem agarrado à minha almofada, esperando que ela me falasse.

Assenti, deixando escapar um soluço e abanei a cabeça a mim própria, entrando no quarto com cuidado. Tinha o coração tão apertadinho que chegava mesmo a sentir dificuldades em respirar, não aguentava mais tempo longe dele. Parei ao pé da cama e apertei as mãos com força, respirando fundo.
- Eu sei que não foste tu.- murmurei.- eu vi o teu caderno.- fechei os olhos quando o choro se entalou na minha garganta, impedindo-me de falar durante uns minutos.- eu sei que não foste tu.- abanei a cabeça, soluçando.- desculpa, desculpa, eu não devia ter dito aquelas coisas.- choraminguei.- não foste tu, desculpa.

Fiquei paradinho à espera que ela dissesse alguma coisa e engoli em seco quando ela disse que não tinha sido eu. Virei-me devagarinho para ela e pensei em sentar-me, mas deixei o meu corpo parado, enroscado nas mantas.
-Que caderno? - perguntei baixinho passando as mãos pelos olhos que ardiam, como se fosse uma criança. Olhei para a minha prateleira e engoli em seco ao perceber que me faltava um.

Atrevi-me a aproximar-me da cama e estiquei uma mão, tocando-lhe com as pontinhas dos dedos na sua.
- Tu deixaste um caderno caído no meu quarto, só o vi hoje.- murmurei baixnho e abanei a cabeça, sentindo as lágrimas escorrerem-me pela cara.- desculpa..eu não te quero perder.- ofeguei.- eu não te consigo perder.

Olhei para os seus dedos na minha mão e aproximei-me mais um bocadinho da ponta da cama, mas encolhi-me mais. Assenti com a cabeça olhando para as suas pernas e só voltar a levantar o olhar quando a ouvi dizer que não me queria perder.
-Devias saber que não ia fazer por mal - murmurei baixinho - eu prometi.

Passei as mãos pelas bochechas molhadas e recostei-me na cadeira, baixando o olhar para as minhas mãos. Ele tinha razão, eu nunca devia ter duvidado dele. Ele já me tinha dado provas suficientes de que ia estar comigo.
- Eu sei..- fechei os olhos, abanando a cabeça.- eu nunca devia ter duvidado.- mordi o lábio com força.- mas eu tive medo de..- tapei a cara com as mãos e calei-me quando o choro voltou.

Sentei-me devagarinho enquanto ouvia o seu choro e dei-lhe uma mão e depois a outra, puxando-a com cuidado para o meu colo. Não estava chateado com ela, só não tinha gostado de que ela tivesse pensado aquilo de mim. Já tinha feito muita asneira, mas só queria estar com ela.. precisava de sentir que alguém gostava de mim e só sentia isso com ela.

Levantei a cabeça quando ouvi barulho da cama a mexer-se e juntei as sobrancelhas ao ver as suas mãos estendidas para mim, mas agarrei-as, sentindo-me ser puxada para o seu colo. Foi quase imediato. Abracei-me ao seu corpo e desatei a chorar como um verdadeiro bebé.
- Desculpa.- apertei-o contra mim.- desculpa, eu não queria, desculpa.

Abracei o seu corpo devagarinho e encostei a cabeça do outro lado, ficando a olhar para o chão - Está bem - murmurei baixinho quando me pediu constantemente desculpa - está bem, esquece isto - pedi-lhe deitando-a na minha cama e deitando-me ao lado dela, puxando-a para que se encostasse a mim.

Apertei a sua camisola nas minhas mãos e solucei baixinho, agarrando-o com força contra mim, como se me assegurasse que ele não ia mesmo embora.
- Não está.- abanei a cabeça.- eu não devia ter dito aquelas coisas, nem sequer devia ter pensado.- solucei.- eu não devia.

Abanei a cabeça com um suspiro e baixei o olhar até onde estava a minha mão, descendo-a pela sua perna até a olhar - Está tudo bem - voltei a repetir, sorrindo um bocadinho. - Já estou contigo outra vez - encostei a cabeça ao seu peito ficando a dar-lhe festinhas naquela zona da perna.

Passei as mãos pelas bochechas molhadas e funguei baixinho, mordendo o lábio com força. Encolhi-me ligeiramente ao sentir o seu toque, mas rapidamente todos os meus músculos relaxaram, fazendo-me assentir devagarinho.
- Isso quer dizer que me desculpas? - perguntei muito baixinho, levando as mãos ao seu cabelo.

Fechei os olhos assim que senti a sua mão no meu cabelo e sorri levemente - Eu nunca estive chateado contigo - disse com um encolher de ombros, afastando a cabeça do seu ombro para que a conseguisse olhar. - Eu amo-te Franckie - saiu-me fazendo-me engolir em seco logo de seguida - eu não me importo se não sentires o mesmo. Desde que fiques comigo.

Comecei a fazer-lhe festinhas devagarinho, com as pontinhas dos dedos e senti a minha vontade de chorar acalmar aos poucos. Suspirei baixinho, encostando a minha cabeça à sua e bastou ouvi-lo para o meu coração disparar numa correria. Ele o quê? Arregalei ligeiramente os olhos e foi como se todo o sangue do meu corpo me fugisse para as bochechas.
- Não.- abanei muito a cabeça e abanei-a depois ainda mais, com medo que ele não percebesse.- tu..- ai meu deus.- eu...- olhei-o meia atrapalhada e senti o meu coração quase a saltar-me do peito. Ele gostava mesmo de mim.- eu estava a ver que nunca mais dizias.- o meu ar de espanto foi substituído por um sorriso de orelha a orelha e eu agarrei-me a Ethan, abraçando-o com força.- eu também te amo Ethan.- sussurrei.

Ia afastei-me um bocadinho quando ela disse que não e engoli em seco, baixando o olhar, até ela voltar a falar. Juntei as sobrancelhas enquanto olhava para o seu olhar de pânico, se calhar era melhor não ter dito nada, mas saiu... eu nem tive tempo de pensar. Abri a boca para lhe pedir desculpa, mas já só senti o seu abraço e a ouvi reclamar por não ter dito à mais tempo. Encoste a cabeça ao seu ombro e apertei-a com força - amas-me mesmo? - perguntei baixinho.

Não era preciso muito para perceber que o amava. Amava-o há muito tempo. Amava o seu sorriso, o seu olhar inocente, amava-o, só a ele. Nós já tínhamos passado por muita coisa juntos, nós já tínhamos feito muita coisa juntos. Sorri que nem uma parvinha, apertando-o contra mim e assenti com a cabeça à sua pergunta, escondendo a minha cara no seu peito.
- Eu amo-te.- voltei a dizer.- amo-te mesmo.- subi o olhar para ele.- amo-te muito.

Mordi o lábio quando ela disse muitas vezes que me amava e apenas sorri, não sabia o que fazer mais, por isso apenas fiz isso. - Não fazia mal se não amasses, eu já estou habituado a pessoas que não me amem - murmurei passando as mãos pela bochecha dela, com um meio sorriso. Ela amava-me.

Juntei as sobrancelhas com o que ele disse e olhei-o preocupada, abanando muito a cabeça.
- Mas eu amo.- encostei mais a minha bochecha à sua cara e abri os olhos para olhar os seus.- amo muito, acreditas, não acreditas? - mordisquei o meu lábio.