Jardim

- Um bocadinho não... merece sofrer muito e para sempre. - disse com toda a sinceridade, já não a suportava. Quanto mais longe estivesse de mim melhor era. Mordi o lábio à sua pergunta e hesitei um pouco antes de lhe responder. - De acidente de carro. - acabei por dizer.

- Também não sejas tão negativa. - disse mordendo o lábio para reprimir uma gargalhada. A miúda era toda revoltada e ainda falava de mim e do assalto ao banco. Acidente de carro. Controlei-me para não suspirar que aquilo não era nada macho e olhei-a - A minha mãe também.

Encolhi os ombros quando disse para não ser tão negativa e nem lhe respondi a isso. Não valia a pena. Arregalei os olhos quando ele disse aquilo e finalmente virei a minha cara para ele olhando-o. - A sério...?

Olhei para ela quando fez o mesmo e assenti com a cabeça. Uau parecia que me ia beijar só porque a minha mãe tinha morrido num acidente de carro. Porque é que não tinha dito aquilo mais vezes? Ia conquistar muitas assim de certeza.
- Sim, a sério. Se bem que acho que também morreu de depressão mas o que a matou mesmo foi o acidente.

Continuei a olhá-lo e assenti levemente ao que ele disse. Parecia que tinhamos algo em comum apesar de tudo. Suspirei. - E o teu pai? - perguntei um pouco a medo.

Pousei as mãos na relva e apoiei-me nas mesmas, ficando meio recostado para trás - O meu pai morreu de cancro no fígado. É o que faz ser um verdadeiro álcoolico. - encolhi os ombros - Não fazia falta a ninguém também.

Arregalei os olhos surpreendida, se a minha vida era um pesadelo a dele não ficava atrás. - Que mau... - disse mordendo o lábio.

Encolhi os ombros descontraido e continuei a olhar para ela - Nada que não se resolva. Depois fui para uma instituição de adoção porque só tinha dez anos e foi fixe. - sorri enquanto me lembrava - E produtivo.

- Ainda bem. - disse de sobrolho franzido. - Produtivo porquê? - perguntei um pouco confusa.
- Ia perguntar-te porque estás aqui, mas não é preciso... não tens nenhum problema de saúde, ao contrário de mim... - suspirei. - E estás aqui por causa... daquilo. - nem queria dizer a palavra pois só de pensar ficava com medo... dele...

- Porque foi lá que encontrei as pessoas que tal como eu, não tinha ninguém que quisesse saber delas. - olhei-a e ignorei quando ela se meteu com as suposições que não eram mentira nenhuma - Sabes porque é que assastámos um banco? Não temos absolutamente nada a perder. Não temos ninguém, não temos nada. Se isto tudo der certo, espetacular, temos umas férias até ao resto da vida, se correr mal, vamos para a prisão. Não interessa.

Suspirei assentindo à primeira coisa que ele disse, compreendi-a, era sempre bom encontrarmos pessoas que nos compreendessem e estivessem na mesma situação que nós. Abanei a cabeça quando me explicou aquilo do assalto. - É crime James... - olhei-o com mais atenção. - Pode estragar a tua vida por completo... podes acabar com o teu futuro entre as grades de uma prisão.... e não digas que não tens nada a perder porque não sabes o que pode acontecer no futuro, a tua vida pode mudar para melhor... sei lá. - encolhi os ombros. Aquilo no fundo também servia para mim, apesar de tudo o que eu estava a passar ainda não tinha perdido a esperança de a minha vida mudar e ter um futuro bom.

Encolhi os ombros enquanto a olhava com um sorriso nos lábios - Estás inspirada. Mas o meu futuro só pode ser em dois sitios: numa praia no México ou numa prisão. Qualquer um deles, não me importo. Prefiro o primeiro mas pronto. - voltei a encolher os ombros - O meu futuro não tem nada para mudar. Ao menos preso e a assaltar bancos não me torno num homem como o meu pai.

- Muito inspirada. - revirei os olhos e não consegui evitar um pequeno sorriso. - Não devias pensar assim. - retorqui suspirando. - E só te tornas num homem como o teu pai se quiseres... - acrescentei.

- Não quero, por isso é que estou milionário e vou viajar. - disse com um sorriso gigante - Se te portares bem até arranjo maneira de saires daqui. Mas não te levo para o México, não penses.

Revirei os olhos e fiz-lhe uma careta. - Também não queria ir contigo. - disse deitando-lhe a língua de fora. - Manda-me para o lado oposto do México, assim ficas bem longe de mim. - disse ironicamente.

- Eu só te tiro daqui, tu depois vais para onde quiseres. - disse com um meio sorriso, olhando para ela - Volta a deitar a lingua de fora que ficas sem ela.

- Hmhm, vou para o outro lado do mundo, longe de toda a gente que conheço... - suspirei.
- E deito. - disse e para o provocar voltei a por a lingua de fora.

- Fazes bem. - revirei os olhos quando repetiu para me provocar. Atirei-me para cima dela e olhei-a - Faz lá outra vez. Torno realidade os teus sonhos, já.

- Vais fazer o quê hum? - perguntei quando se atirou para cima de mim. - Já te disse que não tenho sonhos que te envolvam. - sorri e voltei a por a língua de fora.

- Claro que não tens. Estás em fase de negação. - aproximei mais a minha cara da dela até que os nossos narizes se tocassem - Volta a fazer isso. - disse calmamente.

- Não tenho mesmo. - fiz cara de má e engoli em seco quando ele aproximou a sua cara da minha. - E faço... - murmurei e voltei a meter a língua de fora.

Revirei os olhos quando ela voltou a meter a lingua de fora e agarrei nas pernas dela, colocando-as à minha volta. Levantei-me do chão com ela ao colo e andei até ao pequeno lago que havia ali perto. Meti-a de cabeça para baixo lá, agarrando-a bem para que não caisse de cabeça na água - Faz lá outra vez.

Arregalei muito os olhos quando ele me pegou ao colo e se aproximou do lago pondo-me de cabeça para baixo. - Pousa-me no chão oh estúpido!! - comecei a bater-lhe com as mãos. - Porque é que não posso fazer? - perguntei agarrando-me a ele.

- Porque se voltares a deitar a lingua de fora vais tomar banhinho. - disse com um sorriso e ameacei que a ia atirar - Então, - disse rindo-me - volta lá a deitar a lingua de fora.

Sorri-lhe muito cinicamente. - Espero que saibas que se eu for tomar um banhinho tu vais logo a seguir. - disse continuando com aquele sorriso e agarrei-me mais a ele.