Sala das Visitas

Fiquei a olhar para ela enquanto falava e o meu coração só ficava mais e mais apertadinho. Notava-se que ela o amava, que isto era tudo culpa das vozes. Eu ia ajudá-la, eu ia mesmo ajudá-la.
- Então eu venho ter consigo.- disse com um ligeiro sorriso e estiquei-me na cadeira quando a vi ficar mais tristinha, esticando-me até a conseguir abraçar.- não fique triste.- pedi baixinho.- eu vou ajudar, vai ter o Ethan de volta.

Olhei-a quando se aproximou e sorri um bocadinho assentindo com a cabeça - eu sei - disse acariciando-lhe a bochecha - eu vou tê-lo de volta - sorri assentindo - e não tenhas medo de o perder, se eu o tirar daqui, tu vens atrás - disse-me baixando-me ligeiramente, ficando a olha-la - nem que para isso seja preciso adoptar-te - ri-me baixinho.

Fechei os olhos mal senti a sua mão na minha bochecha e encostei a cara mais à mesma, soltando um suspirinho. O Ethan dava-me miminhos, e eram os melhores do mundo, mas ela, ela fazia-me lembrar a minha mãe. Tinha tantas saudades dela..se não tivesse sido eu..Abanei a cabeça, antes que tivesse um ataque ali com ela e concentrei-me nas coisas que ela dizia
- Eu vou com vocês? - perguntei baixinho. A verdade é que se me tivesse de separar de Ethan ia voltar à estaca zero, ele fazia-me bem, fazia-me estar controlada. Juntei as sobrancelhas assim que ela disse que me adotava e mostrei um sorriso sem vontade.- os meus pais morreram.- encolhi os ombros.- não me importava de ter uma mãe como você, mas acho que não me deixam sair daqui assim tão facilmente.

Suspirei ao ouvi-la dizer que os seus pais tinham morrido e assenti com a cabeça - eu sei, os médicos disseram-me quando me informaram que o Ethan andava muito contigo - mordi o lábio com um sorriso - Eu tenho os meus contactos, vão sair os dois - sorri levemente - eu sei que sem ti o Ethan nunca vai estar bem. Aconteceu o mesmo com a irma dele. - engoli em seco.

Limitei-me a encolher os ombros assim que falou dos meus pais. Eu preferia não pensar, ao menos tinha a certeza de que não me dava nenhum ataque e de que não magoava mais ninguém. Subi o olhar para ela, sorrindo ao de leve assim que me garantiu que eu ia sair dali com Ethan e assenti. Se ela dizia, eu acreditava nela.
- Obrigada.- murmurei, endireitando-me assim que falou na irmã dele e mordi a parte de dentro da bochecha. Cada vez que me lembrava que ela tinha desaparecido por minha causa, o meu coração ficava tão apertadinho..- ela deixou de aparecer por minha causa.- baixei o olhar para as minhas pernas com um suspiro.- acho que não gostou de mim.

Sorri quando me agradeceu e abanei a cabeça, se ela era importante para ele era também importante para mim. Juntei as sobrancelhas com o que ela disse - não - disse baixinho e suspirei - ela.. morreu... quando o Ethan ainda era muito pequeno, não foi culpa tua. Ele pode pensar que não, mas se essas alucinações desapareceram.. ele está bem, está a ficar bom

*Ethan*

-Ethan - ouvi uma voz baixinha e olhei em volta por todo o meu quarto arregalando os olhos quando vi a minha irmã. Ela sorriu, mas eu fiquei estático, sem me mexer.

Levantei o olhar devagarinho para ela, ouvindo-a falar e mordisquei o meu lábio de forma nervosa. Sim, eu sabia que a irmã dele não passava de uma alucinação, ela já tinha sido real, mas não era mais.
- Mas..- suspirei baixinho, brincando com os meus dedos.- ele ficava feliz quando a via.- murmurei baixinho.- e ele fica triste quando se lembra que ela já não aparece.- voltei a baixar o olhar.- eu não a queria afastar dele, apesar de ele me ter dito que eu era real.

*mae*
Aproximei-me dela agarrando-lhe nas mãos, baixando-me até conseguir ficar cara à cara com ela - eu sei que ele ficava. Eu também a afugentava antes e ele ficava destroçado - murmurei - mas percebe que, se ela não desaparecesse ele não ia melhorar. - suspirei - Eu adorava ter essa visão, voltar a vê-la, mas isso não seria bom final. - sorri com o que ela disse - e ele tem razão, tu és real, é em ti que ele tem que se concentrar.

Olhei para as mãos dela, vendo-as agarrar nas minhas e depois, lentamente, fui subindo o olhar para ela. Eu não conseguia não gostar dela. Sim, era certo que antes eu a odiava, por tudo o que supostamente ela tinha feito a Ethan, mas agora que eu sabia a verdade, eu gostava dela. Fazia-me sentir saudades da minha mãe, mas uma saudade boa, por mais estranho que pudesse parecer. Ouvi com atenção tudo o que ela disse, assentindo devagarinho e apertei ligeiramente as suas mãos, sorrindo ao de leve.
- Ele também me faz bem, não sou só eu.- abanei a cabeça.- ele faz com que as coisas más desapareçam, é graças a ele que eu também estou a ficar melhor.- parei de falar, endireitando-me ligeiramente e mordisquei o meu lábio.- eu estou a ficar melhor, não estou? - pelo menos, quando estava com Ethan, eu sentia-me melhor.

Sorri com o que ela disse e assenti com a cabeça - estás, eu falei com os médicos e eles dizem que estás a fazer progressos- dei-lhe uma festinha no cabelo - é por isso que ainda vai sair mais fácil para mim tirar-vos daqui. - olhei para as horas com um suspiro e beijei-lhe a testa como despedida - eu tenho que ir trabalhar - suspirei de novo - desculpa - murmurei - mas eu volto - sorri - eu venho sempre aqui às seis horas, não precisas de vir, podes estar ocupada, mas eu vou estar à espera - levantei-me.

*ethan*

Passei uma mão pela outra afastando-me ligeiramente, ficando encostado à parede, porque é que isto tinha que ser assim? Porque é que eu tinha que voltar a ouvir as vozes todas quando ela desaparecia? Ou quando ficava mais inseguro? Porque é que eu tinha que ser assim. Fechei os olhos com força passando as mãos pela testa e estiquei-me até agarrar na tesoura que tinha escondida apontando para a minha irmã, ela tinha que desaparecer.

Fiquei a olhar para ela, assentindo à medida que falava e sorri quando disse que ia ser fácil tirar-nos dali, começando logo a imaginar como seria estar com Ethan fora daquelas paredes. Mal podia esperar. Olhei para cima, ao sentir o seu beijinho na minha testa e apesar de me soar meio a despedida, eu não consegui não soltar um suspirinho agradado.
- Não.- abanei a cabeça, juntando as sobrancelhas quando me pediu desculpa.- não precisa de pedir desculpa, não faz mal.- eu gostava da companhia dela, mas se tinha de trabalhar..Assenti, assim que me disse que vinha todos os dias às seis e pousei as mãos nas rodas mal se levantou.- eu venho vê-la, não prometo que seja todos os dias, por causa do Ethan..- mordisquei o meu lábio.- mas eu venho.- assegurei.

*mae*

Sorri quando disse que não precisava de pedir desculpas. O meu único problema no meio disto tudo eram os filmes, eu não parava quieta, trabalhava horas a mais para compensar o facto de perder duas horas aqui parada, sem fazer nada. Bem, pelo menos agora tinha Franckie - cuida bem dele está? - perguntei com um sorriso e como sabia que ela cuidar sempre bem dele, não esperei que respondesse, saindo pela porta.

Obrigaram-me a ir, disseram que se eu não abrisse a porta ia ser pior para mim, mas que se o fizesse até podiam dar um desconto. Eu não sabia que os psiquiatras podiam usar a chantagem, mas eles é que sabiam. Neste momento estava sentado no canto do sofá a olhar para os meus pais que mal conhecia e para o meu irmão que era a minha fotocópia e estava com a mesma expressão que eu.
-Então... Estás melhor? - fiz uma ligeira careta desviando o olhar da minha mãe e agarrei-me a uma almofada que estava atrás de mim. Eles continuaram a fazer-me perguntas, como se eu fosse mesmo responder. Estar com eles ali só me fazia lembrar mais o que tinha acontecido, e eu não queria relembrar, ficava maluco quando relembrava, eu só queria estar com uma das quatro raparigas que tinha conhecido, pelo menos aí esquecia tudo.

Atirei o pedaço do espelho para um canto qualquer do quarto e agarrei-me ao meu braço que apesar de não sangrar muito, sangrava o suficiente e doía-me. Tinha feito um trabalho bastante bom, mesmo bom, demasiado bom. Suspirei e sai do meu quarto, caminhando pelos corredores enquanto procurava por uma enfermeira ou até chegar à enfermaria. Voltei atrás quando vi uma enfermeira a levar o Oliver e levantei uma sobrancelha. Se ele falasse, tinha medo que ele tivesse contado os nossos planos mas como ele não falava, fiquei mais curiosa. Comecei a segui-los silenciosamente mas parei assim que chegaram à sala de visitas.

Suspirei ao vê-los. Eles vinham ver-me todos os dias para quê? Até o meu irmão já parecia meio aborrecido. Eu não falava, eles mal me conheciam, eu não fazia nada quando estava ali a não ser olhar para eles. Às vezes ainda me pediam para desenhar alguma coisa para eles, como se fosse uma criança de seis anos. Sentei-me à frente deles depois de os comprimentar e olhei em volta enquanto eles falaram, parando com o olhar sobre Piper ou melhor.. Kristen.

Fiz uma careta de dor e olhei para o meu braço que começava a pingar sangue para o chão. Fiz novamente uma careta e encostei-o à minha barriga, de maneira a que a camisola absorve-se parte do sangue e evitasse que sujasse tudo. Voltei a levantar o olhar para onde o Oliver estava e levantei uma sobrancelha quando vi dois Olivers e várias pessoas parecidas com eles. A minha família mal queria saber de mim desde que ali me tinha posto e por isso é que eu ia fugir dali de uma vez e ter uma vida normal e só minha lá fora. Voltei a olhar para o meu braço e comecei novamente a caminhar dali para fora em direção à enfermaria.

Levantei mais a cabeça espreitando para a zona do braço que ela estava agarrada e arregalei os olhos ao ver sangue. Era agora? Ela estava a fazer tudo agora? Engoli em seco quando ela foi embora e só consegui ouvir as perguntas deles a perguntarem-me o que se passava e o que é que estava a acontecer. Olhei-os e depois olhei em volta para ver onde estavam as enfermeiras. Apontei para baixo com um dedo.
-Ah, ele deve querer ir à casa de banho - o meu irmão tentou ajudar-me e eu assenti muito. Fiz uma careta quando a minha mãe se ofereceu para ir comigo e apenas me levantei saindo dali.

- Isto dói. - resmunguei para mim própria enquanto caminhava pelos corredores à procura da enfermaria. Aquilo era tão grande que eu às vezes conseguia perder-me. Precisava de ir para lá e sacar tudo o que me pudesse ajudar a sair da clínica no momento certo, ainda tinha de organizar bem as coisas mas precisava de ter as ferramentas todas à mão. Baixei o olhar para o meu braço que estava coberto de sangue e voltei a encostar o mesmo à minha barriga. Tinha cortado por cima de um corte sarado que não me lembrava de alguma vez ter feito e começava a sentir-me tonta - Era só o que mais faltava. - resmunguei. Precisava de estar consciente se ia roubar coisas, não se pode roubar nada quando estás desmaiada por perda excessiva de sangue.