King Grant

Ela riu-se. Ela estava a rir-se na minha casa. Fechei os olhos por uns minutos e respirei fundo, mas não me consegui controlar quando me começou a bater no peito. Agarrei-lhe nos punhos e encostei-a à porta com uma força que não calculei -Cala-te! - gritei olhando-a, sem a largar. - Não podes fazer isso. - abanei-a contra a porta gritando no mesmo tom.

Senti as minhas costas a embater com força contra a parede e fechei os olhos. Continuei de olhos fechados enquanto ele me abanava e senti as lágrimas a cair pelas bochechas - King, estás a magoar-me! Deixa-me! - gritei-lhe de volta.

Abanei a cabeça cego pela raiva, aquele gajo nojento tinha-me estragado a vida mais uma vez, e só tinha pedido ajuda. Voltei a abana-la mais rápido enquanto continuava a abanar a cabeça - Não. - cerrei o maxilar e larguei-a brutamente espetando depois o dedo no seu peito - Não vais fazer nada.

Fiquei a olhar para ele meio desfocado porque as minhas lágrimas tornavam a minha visão mais desfocada. Senti os dedos dele espetados contra o meu peito e espetei o queixo para cima para tentar parecer forte - Já fiz, King. - mordi o lábio para o impedir de tremer.

Olhei-a de lado e fiquei quieto durante uns segundos. Isso era mau. O king já não era eu. Agarrei nos seus cabelos e abanei a cabeça enquanto a olhava com os olhos muito abertos.
-Não, não fizeste! - não sei bem o que fiz, mas ela foi parar ao chão - não fizeste nada! - gritei-lhe.

Senti as mãos dele no meu cabelo e fui atirada para o chão. Não consegui conter as lágrimas e os soluços e comecei num pranto autentico. Levantei-me à pressa e espalmei-me contra a parede, o mais longe possivel dele - Eu odeio-te! - gritei-lhe e sabia que era uma completa mentira mas não conseguia manter a calma naquele momento - Querias que eu me fosse embora se te passasses, pois bem, eu odeio-te e vou embora da tua vida para sempre! - atirei-lhe com uma coisa qualquer e corri para fora do quarto dele.

Dei mais um passo na direcção dela quando disse que me odiava, mas não consegui andar mais outro na direcção dela. Aquela palavra tinha-me atingido, mas isso não me fez parar totalmente, porque quando ela se levantou eu fui na sua direcção mas já só recebi com uma caixa de comprimidos na cabeça. Passei a mão pelo meu olho apesar de só sentir uma impressão e quando voltei a olhar para o meu quarto estava de novo sozinho. Semicerrei os olhos e cerrei o maxilar com força, quase que sentia os meus dentes partirem-se. Abri a porta do quarto, mas fui impedido de andar mais um passo quando vi uma enfermeira.

Não abri logo os olhos, porque sabia que ia ver tudo à roda. Só pelo peso que sentia no meu corpo percebia o que tinha acontecido, apesar de não me lembrar. Quando os abri remexi para passar as mãos pelos olhos, mas estava preso, mais uma vez. Suspirei baixinho voltando a fechar os olhos e tentei soltar-me dali. Não queria estar preso, queria tratar das coisas com o gajo de uma vez por todas.
-Já espevitaste? - perguntou um médico que me fez abrir os olhos e me enfiou uma luz lá para me ver os sinais vitais.
-Tirem-me isto - pedi. Ele abanou a cabeça e ainda apertou mais os meus pés.
-Não podemos - apontou para o quarto e vi que estava praticamente todo destruido, depois lembrei-me de Phoe e aí é que não disse mais nada apenas assentindo e virando a cara para outra sítio.

Fiquei parado durante muito tempo, a olhar para o tecto, não sei bem quantas horas, mas devem ter passado muitas, vi um médico ou enfermeiros todos diferentes, ás vezes perguntavam-me se eu estava bem, mas eu não respondia, podia ser que pensassem que eu estava morto e me levassem, ou coisa parecida.

-Alguém se descontrolou - aquela voz desconcentrou-me fazendo-me olha-lo, coisa que não devia ter feito.
-Deixa-me em paz.
-Na prisão era só uns açoites e umas nódoas negras - comecei a remexer-me para tentar mata-lo. Ele irrita-me, fazia de propósito para eu me passar. Sabia bem os meus pontos fracos - e a outra rapariga foi-se embora, vi-a com umas malas. Estava bastante preocupado, e pensei segui-la, mas não consegui sair. - Cerrei o maxilar e comecei a gritar, eu já não diza coisa com coisa, mais valia gritar. Os médicos apareceram e apenas o levaram dali para fora, não dando conta que eu dizia o que ele queria fazer.

Estava quase a adormecer quando senti alguém abrir-me as algemas. Abri os olhos de repente e abanei a cabeça ao médio.
-Não - disse logo.
-Precisas de comer - eu voltei a fazer o mesmo e fechei os olhos .
-Não tenho fome, nao quero fazer nada.

Eu tanto insisti que não comia que acabei por não o fazer mesmo. Ameaçaram colocar-me a soro mas eu não liguei, não iam fazer isso. Adormeci e acordei várias vezes, já não sabia a quantas andava. Mas da última vez que acordei já não tinha algemas em lado nenhum. Olhei para os meus braços avermelhados e abanei a cabeça.
-É contra as regras do hospital manter um doente preso quando ele já se acalmou e não é nenhum perigo. - disse uma enfermeira que me percebeu.

Acabei por me virar de barriga para baixo e agarrei-me à almofada ficando assim durante longo tempo, até me virem chatear. Ao início pensava que era um médico, mas depois...
-Tenho saudades de partilhar a cela contigo.
-Volta para lá - disse logo cerrando o maxilar- encontras alguém de certeza - levantei a cabeça - como é que consegues entrar aqui se estou constantemente a ser vigiado? - coloquei-me de joelhos na cama, apesar de sentir as pernas todas bambas.
-Tal como roubava e todos pensavam que eras tu. - mais uma vez ele conseguiu tirar-me do sério, mas felizmente os médicos apareceram e tiraram-no de lá, fechando-me a sete chaves.

Cruzei os braços ao peito e enfiei as pernas debaixo da cama.
-Eu não quero ir - disse enquanto uma enfermeira baixinha, muito branquinha e agora um pouco aflita dizia que eu tinha que ir à minha consulta. Até tinha pena dela, porque eu não ia dar o braço a torcer, não queria sair do meu quarto, não queria fazer nada, até nem me importava de estar preso. - Diz que eu estou doente - olhei para a enfermeira mais uma vez - aliás, eu estou doente - levei a mão à testa e voltei a deitar-me coberto pelas mantas todas. Ela suspirou e acabou mesmo por desistir.

Obrigaram-me a levantar para fazer uns testes, mas eu não conseguia estar direito, a minha cabeça doía e pesava, parecia uma bomba, para além de que as minhas pernas não paravam de tremelicar.
-Vais ter que ir ao bar comer alguma coisa - disse o médico para mim, mas eu abanei a cabeça. Não tinha apetite nem fome, comer só me ia fazer ficar mais indisposto - Vais sim, vai conviver. - agarrou no meu braço e pôs-me fora do meu próprio quarto.

Quando voltei para a clínica a primeira coisa que fiz foi pedir ajuda para ir para o meu quarto. Não queria falar com ninguém, já tinha dito tudo a Anne, agora que mais ninguém me chateasse. Puxei as mantas para cima de mim aos tremeliques e fechei os olhos tentando descansar.

Estava quase a adormecer sem medicamentos quando abriram a porta e me fizeram estremecer.
-King - falaram baixo e vieram ter comigo.
-Hm? - não me mexi para não sentir dores.
-Tens visitas - olhei para fazendo uma careta e vi-o atrás de duas enfermeiras.
-Não, tirem-no daqui - agarrei numa almofada e atirei-o gemendo quando senti dores na minha barriga.
-Hei, hei hei - senti alguém agarrar-me nos ombros - sou só eu. - quando voltei a abrir os olhos já não estava lá mais ninguém a não ser Anne.

-Estás bem? - perguntou-me agarrando-me na cara para que eu olhasse directamente para os seus olhos. Assenti com a cabeça meio desorientado e afastei-me.
-Sim - murmurei.
-Queria só dizer-te que vais precisar de falar com a polícia, mas eles vão dar-te descanso agora. Consegui isso.
-Está bem - suspirei - obrigado - virei-me novamente para um lado, para tentar dormir.

Só "acordei" quando vi a Anne à minha frente. Mordi o lábio enquanto ela falava e dizia que o King já tinha voltado do hospital. Encolhi os ombros como se não me importasse minimante mas não tardou muito a ir ao quarto dele. Mordi o lábio quando o vi a dormir e encostei-me à parede a olhá-lo.

Voltei a ter a mesma sensação e estremeci quando abriram a porta, era ele de novo. Não, não podia ser, eu estava a ser protegido, a Anne tinha-me dito isso. Passei as mãos pelo meu pescoço quando ele as esticou até lá.
-Não, larga-me.

Mordi o lábio quando o ouvi a falar e aproximei-me da cama e estiquei o braço para ele, passando-lho pelo cabelo - Shh. - murmurei - Está tudo bem, King. - disse baixinho enquanto me sentava na cama.

Abri os olhos devagarinho quando voltei à realidade e fechei-os novamente. Agora é que não sabia mesmo se estava a sonhar ou não, mas era estranho ela estar ali, devia estar com o irmão, não enfiada na clínica.

Cheguei-me mais para ele quando acalmou e continuei a passar a mão pelo seu cabelo enquanto lhe falava baixinho. Mordi o lábio quando o vi ali tão perto a dormir e a não me mandar embora.

Tentei mexer-ne uma bocadinho mais porque já não aguentava mais daquela posição, mas não consegui, sempre que o fazia demasiado doía que se fartava. Aquele nojento ia ver o que era bom para a tosse, assim que eu ficasse bom claro. Ia mata-lo, agora já não tinha nada a perder, porque Phoebe já não era minha, nem podia voltar a ser.
-Não pode - murmurei baixinho abanando a cabeça só para mim, estava apenas a tentar convencer-me.

- Shh. - murmurei baixinho quando o ouvi a falar e a ficar todo alterado. Sentei-me na cama de lado e deitei a cabeça dele no meu colo, para continuar a dar-lhe festinhas e a tentar acalmá-lo - Podes descansar.