Quarto1

-É? - perguntei face ao que ela disse, querendo ver o meu quarto. Assenti, colocando-a no chão e fui com ela até ao mesmo. Estava meio empoeirado mas quando a minha mãe tinha vindo connosco tinha aberto as janelas por causa do pó. - Antes tinha peluches - lamentei-me por já não estarem lá e sentei-me na cama olhando para ela. - gostas? - perguntei.

Assenti com a cabeça à sua pergunta, começando depois a andar a seu lado até ao seu quarto. Agarrei-me ao seu braço, tentando apressar-me ao mesmo tempo que tentava também não cair, assim que lá chegámos, eu olhei em volta, sorrindo por ser tão acolhedor. Não sabia se era por ser seu, mas ainda conseguia gostar mais daquele quarto do que do da sua irmã. Segurei-me a um cadeirão que lá havia, deixando que Ethan se afastasse de mim e sorri face ao seu queixume sobre os peluches.
- Se calhar a tua mãe deu-os ao teu irmão.- supus, desviando depois o olhar para ele e esforcei-me por caminhar até ao seu encontro, sempre agarrada às coisas, respirando fundo quando me consegui sentar na cama. Cheguei-me para junto de Ethan, a tempo de ouvir a sua pergunta e assenti à mesma com um sorriso.- gosto muito amor.- murmurei.- é bonito e acolhedor.- voltei a olhar em volta, esticando-me depois até lhe beijar a bochecha.- sinto-me bem aqui..- encostei-me a ele.- contigo.

Semicerrei os olhos depois de a ouvir dizer que talvez a minha mãe tivesse dado os meus peluches ao meu irmão. Eu gostava muito dele, mas isso não... Encostei-me à parede de madeira com os braços braços cruzados - isso não é justo, eles são meus. - olhei em volta, encostando a cabeça à madeira acabando por sorrir ao dizer-me que era acolhedor e bonito - eu sei - encolhi os ombros - sempre gostei desta cama - olhei para Franckie abraçando-a.

Quando vi o ar amuado com que Ethan ficou, ao perceber que talvez a sua mãe tinha tirado dali os peluches para dar ao seu irmão, foi impossível não soltar uma leve gargalhada.
- Eles não deixam de ser teus por a tua mãe os ter levado para o quarto do teu irmão.- disse, esticando-me até lhe acariciar a bochecha.- faz de conta que foi uma prenda que tu lhe deste.- sorri-lhe.- além disso, podes abraçar-te a mim.- encolhi os ombros.- faz de conta que eu sou um peluche.- brinquei, apesar de estar a falar a sério e assim que ele o fez, eu encostei-me ao seu peito, esticando apenas a cabeça para roçar os meus lábios pelo seu queixo.- é um bom sítio para namorar.

Olhei-o confuso quando se riu do que eu disse, porque não estava a ver onde estava a piada, mas acabei por sorrir ao perceber como reverteu as cenas. - Sim, desde que ele não os babe - encolhi os ombros e levantei-lhe o olhar para ela rindo-me - estou sempre abraçado a ti - murmurei encostando a cabeça ao seu pescoço mas logo a levantei passando os dedos pelo seu cabelo e beijando-a.

Uma das coisas que me tinha feito apaixonar por Ethan era a sua inocência. E saber que ele continuava o mesmo, apesar de tudo pelo que já tinha passado, deixava-me feliz. Passei as pontinhas dos meus dedos pela sua bochecha, enquanto o ouvia falar ainda sobre os peluches e assenti ao que disse.
- Tenho a certeza que ele vai tratar muito bem deles, tal como tu.- sorri, também face à sua gargalhada e subi depois as minhas mãos até ao seu cabelo, depois de ter encostado a sua cabeça ao meu pescoço.- e não é bom estar abraçado a mim? - perguntei com os olhos semicerrados, apesar de ele não conseguir ver.- eu sou o peluche mais confortável e bonito que tens.- murmurei toda convencida, obviamente na brincadeira e assim que o senti endireitar-se, olhando depois para mim, estiquei-me até aos seus lábios, acariciando-lhe o cabelo enquanto o beijava.

-Ele parece calmo - disse com um encolher de ombros. Eu também era calmo, nunca saia muito do meu sítio, sempre agarrado às minhas coisas, só depois da morte da minha irmã é que já não consegui brincar mais ou divertir-me, então partia tudo o que via à frente. Assenti para responder à sua pergunta e sorri levemente - mas não me posso babar para cima de ti - disse rindo-me. Eu podia não ser a pessoa mais adulta mas já não babava nos meus peluches. Não que tivesse muitos para testar mas... não, já não fazia isso. Desviei o olhar para ela passei os dedos pela sua bochecha - o que é que eu fiz para te merecer? - perguntei baixinho. Eu não sabia mesmo.

Mostrei-lhe um sorriso radiante, assim que o vi assentir, depois de eu lhe ter perguntado se não sabia estar encostado a mim, e acabei até por soltar uma leve gargalhada, face ao que ele me disse.
- Por isso é que eu sou um peluche especial.- voltei a mostrar-lhe uma expressão convencida, passando as pontinhas dos meus dedos pelo seu cabelo.- porque tu preferes dar-me beijinhos do que babares-te para cima de mim.- gargalhei, esticando-me até lhe dar um outro beijinho, mais rápido do que o primeiro, e assim que senti o seu olhar posto em mim, estiquei-me até encostar a minha testa à sua, sorrindo ligeiramente ao ouvir a sua pergunta.- tu fizeste tudo para me merecer Ethan.- murmurei baixinho, acariciando-lhe a bochecha.- foste a melhor coisa que alguma vez me aconteceu.

Fechei os olhos como os gatinhos faziam quando lhe davam festas na cabeça, como ela estava a fazer e sorri - pois prefiro - beijei-lhe os lábios rindo-me baixinho.
Fiquei a olha-la mais sério à espera que ela me respondesse à pergunta que tinha feito e mordi o lábio inferior fechando os olhos apenas por alguns segundos quando encostou a testa à minha, mas rapidamente os abri, quando ela falou - mas eu sou... - calei-me mordendo o lábio inferior, já tinha dado para perceber que ela não gostava de quando eu me chamava nomes, por isso mais valia ficar calado.

Correspondi ao seu beijo ao mesmo tempo que lhe acariciava as bochechas com as pontinhas dos dedos e sorri por fim contra os seus lábios, deixando a minha testa encostada à sua enquanto olhava os seus olhos. Continuei com as festinhas, vendo-o fechar os olhos durante breves segundos e, assim que os abri, quase que pude adivinhar o resto da frase que ele deixou suspensa. E ainda bem, ele sabia perfeitamente o quanto eu odiava sempre que ele começava a menosprezar-se.
- Mas tu és quem me faz feliz.- completei por ele, fazendo-o olhar-me.- és o rapaz que eu amo Ethan por isso, tira esses macaquinhos da cabeça.- estiquei-me até o beijar novamente.- és tudo o que eu sempre quis.

-Por agora - respondi e não deixei que ela respondesse ao que eu tinha dito. Ela não podia adivinhar o futuro e até um retardado como eu sabia disso. Apenas me aproximei de novo para a beijar, aproveitando enquanto estava a sonhar, ou não, porque se estivesse aquilo podia ficar mau e eu não tinha desfrutado de nada. Abracei-a de novo encostando a cabeça ao seu ombro - eu ainda não sei o que se está a passar - admiti baixinho, sem a olhar.

Se havia uma coisa que eu odiava com todas as minhas forças era quando Ethan tinha destes momentos em que duvidava de tudo, até do meu amor por ele. Eu não queria estar com mais ninguém, nem agora nem depois, e ele era o único que parecia ainda não ter entendido isso. Soltei um suspiro baixo contra os seus lábios, quando me beijou para me impedir de responder ao que tinha dito.
- Às vezes acho que duvidas do que sinto por ti.- acabei por admitir, não deixando que o seu beijo me calasse.- sempre pensei que soubesses que te amo e que não vou querer mais ninguém porque mais ninguém me faz sentir como tu fazes.- disse, passando as pontinhas dos meus dedos pelo seu cabelo assim que a sua cabeça veio parar ao meu ombro. Eu não estava chateada, só ficava triste por ele pensar desta forma. Fiquei em silêncio durante o resto do tempo, não me alongando mais sobre aquele assunto e só voltei a focar a minha atenção em Ethan quando ouvi o que disse.- é normal que estejas confuso.- assenti.- mas estamos na tua casa da árvore, na casa dos teus pais que estão contentes por te ter aqui.- disse, ainda encostada a ele.- e eu posso garantir-te que isto não é um sonho.

Mordi o lábio inferior quando a ouvi falar e dizer que eu duvidava do que eu sentia por ela. Abanei a cabeça. Ela não percebia, ninguém percebia, nem eu percebia. Fiquei apenas abraçado ao seu corpo, com a cabeça contra o seu ombro e mascarado com os seus cabelos. Só achava que ela era capaz de arranjar melhor. Ela merecia melhor. Não disse nada, não queria que se chateasse comigo. - não percebes - murmurei sem a largar - hoje não consigo distinguir nada - continuei. Depois de acordar, ou adormecer, não sei bem, tinha tudo piorado. Tudo parecia real e irreal ao mesmo tempo. Queria ficar assim, agarrado a ela e não acordar, ou adormecer, assim o que quer que estivéssemos a ter agora, era bom e real.

Pois, eu não percebia. Era sempre eu que não percebia e era sempre ele que parecia não entender o que eu lhe queria dizer. Eu não queria mais ninguém, não queria arranjar mais ninguém nem estar com mais ninguém..eu só o queria a ele, porque é que ele não acreditava em mim? Ou melhor, se ele acreditava, como dizia que fazia, porque é que insistia em dizer aquelas coisas? Em pensar naquelas coisas? Soltei um suspiro baixo, mexendo no seu cabelo de forma distraída, e decidi não dizer mais nada sobre aquele assunto. Pelos vistos ele não ia mudar de opinião, por isso, acho que não havia muito que eu pudesse dizer, ou fazer. Deixei que continuasse encostado a mim, esperando que aquilo o ajudasse de alguma forma e, apesar de tudo, acabei por pousar a minha cabeça sobre a sua, fechando os olhos até o ouvir falar de novo.
- É normal.- murmurei.- o pesadelo que tiveste deixou-te demasiado confuso.- encolhi ligeiramente os ombros.- mas vai passar.- assenti.- amanhã, quando acordares, vais perceber que o dia de hoje foi real.- continuei.- e que estivemos mesmo aqui, assim abraçados, porque aconteceu mesmo.- disse, acabando por me endireitar para o olhar e lhe tocar no queixo, para que me olhasse também.- e porque tu sabes que eu sou real e não te ia mentir.

Ela não percebia mesmo, eu não sabia. Não sabia! Apertei um braço de volta dela e fechei os olhos com força, querendo ver se aquilo me mostrava algo, mas não aconteceu nada de especial. Levantei o olhar na sua direção quando fez com que eu a encarasse e juntei as sobrancelhas. - Mas tu chateaste-me muito comigo eu também pensava que não te chateavas comigo - murmurei deixando que a minha cabeça deitasse em cima de uma almofada, não largando o corpo de Franckie, queria que ela estivesse bem pertinho de mim. Fechei os olhos com força, mas rapidamente os abri, corria o risco de dormir e não queria.

Se havia algo que eu nunca conseguia, era ficar chateada com Ethan. Mesmo quando eu queria que ele percebesse que não gostava de certas coisas, como por exemplo naquele momento, bastava-me olhar para a sua expressão e simplesmente não conseguia. Ele era demasiado inocente, demasiado adorável e eu gostava demasiado dele para me chatear. Por isso mesmo, ambas as minhas sobrancelhas se levantaram assim que ouvi as coisas que ele estava a dizer.
- Eu não me chateei contigo Ethan.- murmurei, ainda a olhá-lo.- tudo o que tu achas que aconteceu não passou de um pesadelo.- repeti.- eu já te prometi que não me chateio contigo, não já? - toquei-lhe com as pontinhas dos dedos no queixo, mantendo-me depois apenas encostada a ele, visto que a sua cabeça pousou numa das almofadas.- acredita em mim.- pedi, atrevendo-me a pousar a minha cabeça no seu peito, uma vez que ele me abraçava.

Olhei para a expressão confusa de Franckie, que ainda me deixou mais confuso e fiquei a olha-la enquanto a ouvia falar. Assenti à sua pergunta encostando a minha cabeça em cima da sua e fechei os olhos com um suspiro cansado. Já não dizia nada, quanto mais falava mais confuso ficava. Fechei os olhos com um suspiro, mas rapidamente tive que os abrir, estava cansado de novo. Esfreguei os olhos e comecei a sentar-me, assim estava mais acordado - queres dar um passeio no jardim?

Eu já não sabia o que mais lhe podia dizer. Era como se, quanto mais falava, menos ele acreditava no que eu dizia e mais confuso ficava. Por isso mesmo, acabei por decidir calar-me com aquele assunto e esperar que as suas ideias aclarassem. Deixei que continuasse encostado a mim, acariciando-lhe o cabelo durante todo o tempo em que o fez e, assim que se afastou, olhei-o com atenção antes de responder à sua pergunta.
- Não queres descansar um bocadinho? - perguntei, ao mesmo tempo que deslizava as pontinhas dos meus dedos pelas suas olheiras escuras.- eu quero passear contigo.- assegurei logo de seguida.- só estou a perguntar porque hoje mal dormiste, é normal que estejas cansado.- concluí com um encolher de ombros.

Forcei os meus olhos a ficarem abertos quando ela passou os dedos por baixo dos meus olhos e levantei-me logo de seguida, abanando a cabeça freneticamente - não, eu quero ir passear - murmurei esfregando os olhos e olhei-a - eu posso ir sozinho se quiseres dormir - encolhi os ombros. Não era que me apetecesse muito estar a passear sozinho com as vozes a controlarem a minha mente, mas não queria dormir, preferia que elas estivessem sempre a falar, queria garantir que ali estava. - talvez a minha mãe queira - disse mais baixinho olhando pela janela para a procurar.

Bastava ver o esforço que fazia para se manter acordado para saber que eu tinha razão quando pensava que ele estaria cansado, principalmente depois do dia que tínhamos passado. Ainda assim, não insisti para que ficasse a descansar, visto que já tinha dado para reparar que não era isso que queria fazer.
- Não, eu vou contigo.- disse de imediato, assim que o vi ficar mais agitado, e comecei a sentar-me na cama, para me começar também a levantar aos poucos.- só preciso que me ajudes a descer.- subi o olhar para ele, esboçando um leve sorriso, ao mesmo tempo que esticava os meus braços na sua direcção.- pode ser?

Virei-me para Franckie quando disse que ia e passei uma mão pelo braço num tique nervoso enquanto mordia o lábio inferior. - Vais? - perguntei aproximando-me devagar e assenti à sua pergunta agarrando nos seus braços e ajudando-a a levantar-se. Coloquei-a de pé, agarrando-a pela cintura e não consegui deixar de a abraçar. Estava tão assustado, queria tanto acreditar que estava tudo bem, que não se ia passar nada assim que adormecesse. Afastei-me devagarinho, sem dizer nada e ajudei-a a andar devagarinho, não tendo a menor pressa.

Limitei-me a assentir com a cabeça, assim que ouvi a pergunta de Ethan e esperei que se aproximasse de mim para me agarrar aos seus braços e conseguir levantar-me. Mal podia esperar pelo dia em que não ia precisar de depender de ninguém para ir para onde quer que fosse. Estava tão farta disto. Soltei um leve suspiro, tentando impedir aqueles pensamentos de me ocuparem a mente, mas não precisei de me esforçar muito porque assim que Ethan me abraçou, eles desapareceram. Abracei-o com força, passando uma mão pelo seu cabelo e mantive-o o mais perto de mim que consegui.
- Amo-te.- sussurrei baixinho, tentando que aquilo o ajudasse a perceber que tudo o que estava a acontecer era mesmo real e assim que ele se começou a afastar, tive de me agarrar a um dos seus braços para não cair e, consequentemente, conseguir caminhar dali para fora. O que, escusado será dizer, ia demorar.- se quiseres posso ir na cadeira.- acabei por dizer, com um leve suspiro.

Levantei o olhar ao ouvir o seu sussurro ao meu ouvido e olhei-a, tentando perceber se tinha sido mesmo ela, o que era estúpido de pensar, porque nada das outras vozes que ouvia diziam coisas agradáveis como aquela. Engoli em seco, apertando-lhe a mão que agarrava e voltei a abraça-la com força. Continuava ser perceber. - Não quero que vás na cadeira - murmurei logo depois dela dar essa ideia - essa cadeira faz-te mal - continuei, agarrando-a com força. - Tenho tempo - encolhi os ombros abraçando-lhe a cintura com uma das mãos para começarmos a sair dali para fora, precisa mesmo de apanhar ar se não queria adormecer.

Tentei não me deixar afectar pelo facto de Ethan não me ter respondido ao que lhe tinha dito. Estava a tentar mentalizar-me de que as coisas na sua cabeça estavam demasiado confusas e que era apenas por isso que não tinha dito nada. De qualquer das formas, ia continuar a fazer tudo o que me fosse possível para me assegurar de que ele sabia de que eu era real, bem como tudo o que estava a acontecer ali, connosco, naquele momento. Assenti assim que negou a ideia que lhe tinha dado, e era para não dizer nada, mas não consegui.
- A única coisa que me faz bem és tu.- murmurei, esticando-me até lhe conseguir beijar a bochecha e assim que chegámos junto das escadas, preparei-me mentalmente para as começar a descer. Apesar dos progressos que já tinha conseguido, e tudo graças a Ethan, as escadas continuavam a ser as minhas piores inimigas. Respirei fundo, apertando a sua mão com força e, ao mesmo tempo que tentava não cair, comecei a descê-las.