Casa antiga do Oliver

Espreitei para fora da casa antes de sairmos e olhei para Piper sorrindo um bocadinho mas não lhe respondi. A minha antiga casa não era muito longe dali, mas preferia que fosse. Fui pelo mato com ela, sempre a agarrar-lhe a mão, e quando a vi ao longe senti o meu corpo arrepiar-se. - A minha casa - murmurei entrando pelo portão da entrada dos fundos e esperei que ela fizesse o mesmo.

Agarrei na mão do Oliver enquanto saíamos daquela casa abandonada e caminhávamos até à antiga casa dele que eu não fazia a mínima ideia onde ficava. Ia comentar que a casa era muito bonita mas ao ver a expressão dele decidi que era melhor não o fazer. Não era a única com fobia a antigas casas, as recordações do meu rapto estavam sempre presentes - Não vem ninguém para cá pois não? - perguntei com algum medo.

Abri a porta das traseiras, estava estragada e bastava um empurrão com jeito para conseguir abri-la. Abanei a cabeça quando me perguntou se vinha alguém para cá e só me lembrei que tinha voltado a falar, mas também não disse nada, ali tudo o que menos me apetecia fazer era falar. Segurei-lhe na mão com força e subi as escadas devagar, não olhando para a sala, tudo parecia estar mais ou menos como tinha ficado. E se isso era assim ainda devia haver sangue por todo o lado. Puxei-a até ao meu quarto de forma rápida e assim que me encontrei aí fechei a porta com um suspiro aliviado, como se alguém estivesse atrás de nós.

Segui o Oliver sem saber nada daquela casa nem para onde íamos mas sorri assim que percebi que estávamos no quarto dele e sentei-me devagarinho na sua cama - Tens uma voz tão bonita. - disse eu novamente com um sorriso e cheguei-me para uma pontinha para que ele se sentasse ao meu lado - Obrigada por tomares conta de mim. - agradeci sinceramente - Eu sei que não nos conhecemos assim tão bem mas obrigada por tudo Oliver.

Olhei-a quando disse que tinha uma voz bonita e não consegui não sorrir indo sentar-me ao lado dela. - É estranho - murmurei. - não falava há muito tempo. - olhei para as minhas mãos que brincavam uma com outra e olhei depois para ela com um meio sorriso quando disse que não nos conheciamos muito bem - acho que te conheço melhor que tu mesma.

- Mesmo assim. - disse-lhe com um sorriso - Agora podes falar mais vezes porque tens uma voz linda. - agarrei nas mãos dele e cheguei-me mais para ele, para nos manter quentinhos, deitando a minha cabeça ao pescoço dele de seguida com um sorriso - Ao menos que alguém me conheça bem. - disse na brincadeira - Achas que há para aí alguma coisa para comer? - perguntei quando levantei a cabeça - Já tenho fome..

Levantei a cabeça quando ela me perguntou se havia alguma coisa para comer tentando fazer as contas por causa das datas. Só tinha saído dali para aí há um e meio por isso ainda devia haver comida dentro da validade e pelo que sabia a casa agora estava em meu nome, pelo que ninguém tinha entrado - Batatas e bolachas - disse olhando - podes ir tu à dispensa? - perguntei, não queria passar pela sala outra vez.

Encolhi os ombros quando ele disse que só deviam haver bolachas e batatas, sempre era melhor que nada - Não faz mal. - assenti com a cabeça e levantei-me da cama, baixando-me para lhe conseguir dar um beijinho na testa - Mas posso demorar porque ainda tenho de ir à procura. - disse-lhe com um pequeno sorriso nos lábios antes de sair do quarto e me dirigir à sala por onde tínhamos entrado, caminhando de seguida até uma zona onde parecia a cozinha e devia estar lá a dispensa.

Assenti com a cabeça e olhei para a minha cama depois dela ir embora. Descalcei-me, apenas por hábito, e encostei-me à parede ficando agarrado aos meus joelhos enquanto olhava a porta à espera dela. Não queria pensar no que tinha acontecido, mas estar ali e sentir aquele cheiro que continuava na mesma e me irritava, tornava a tarefa impossível. Eu tinha-os morto por legita defesa, mas já tinha pensado nisso antes, felizmente o juiz tinha-me absolvido, mas ele sabia tanto como eu que aquilo era o que eu queria ter feito, mesmo que não fosse consciente. Eu não gostava só de estar ali só porque os tinha morto na sala, era mais pelas coisas que aconteceram durante todo o tempo em que vivi aqui.

Assim que abri a dispensa dei graças a deus por não sair de lá nenhum rato ou morcego ou sei lá que saia nos filmes. Agarrei numas quantas embalagens de bolachas e batatas fritas depois de ver que ainda estavam na data de validade e que estavam em bom estado e fiz o caminho de volta para o quarto onde o Oliver estava à espera - Já trouxe estas coisas. - disse-lhe com um sorriso, deixando cair tudo na cama e sentando-me na mesma de seguida.

Endireitei-me quando a porta se abriu e sorri quando a vi com a comida. Até tinha sido boa ideia ter voltado, eu tinha alguma coisa que dava para alguns dias e para além disso, se fosse à loja que ficava do outro lado da rua era super fácil roubar de lá. Estiquei-me até às batatas fritas e abri o pacote comendo logo uma. - Não deviamos ter vindo embora - disse no tom baixo de sempre, apesar de ser o que eu queria, mas agora tinha medo de voltar.

Estiquei-me até conseguir roubar uma batata frita do pacote que o Oliver tinha aberto e mordi o lábio inferior nervosamente enquanto o olhava - Eu sem sei porque é que fugimos. - encostei-me à parede e tirei mais uma batata do pacote, comendo a mesma logo de seguida - Mas pelo menos aqui estamos bem. Temos comida e as camas e tudo isso. - sorri ligeiramente para tentar acalmar a situação.

Baixei o olhar para as batatas quando a ouvi dizer que nem sabia porque é que tinhamos fugido, não lhe podia explicar, nem queria, acho que falar tinha-se tornado algo doloroso sempre que tentava preferia fartava-me. - Mas a comida acaba e não temos dinheiro - contigo baixo e pela primeira vez desejei que a minha família verdadeira nos encontrasse, se calhar se me ouvissem falar nos deixavam ficar com eles... ou talvez não.

Suspirei com o que o Oliver disse, por saber que ele tinha razão e comi mais uma batata. Não matava a fome mas já era alguma coisa e eu estava à muitas horas sem comer - Quando isso acontecer, temos de voltar. - mordi o lábio inferior e olhei para ele novamente - É a única coisa que temos a fazer. Ninguém vai querer ficar connosco, sabendo que somos fugitivos da clínica. - disse com um pequeno encolher de ombros.

Levantei o olhar para ela quando disse que tinhamos de voltar e juntei as sobrancelhas abanando a cabeça. Não queria voltar para lá assim do nada, sabe-se lá o que é que nos podiam fazer, o mais provavel era não deixarem que ficassemos juntos e isso eu não queria. Já me tinha apegado demasiado a ela. Afastei a comida de mim para ela eengoli em seco - não nos vão deixar estar juntos.

Cheguei-me mais para ao pé do Oliver por ele estar sentado no lado da cabeceira da cama e mordi o lábio inferior ao ouvir o que ele tinha dito, sabendo muito bem que era verdade. Quando voltássemos para a clínica, sim, porque era uma questão de tempo, iam separar-nos para evitar que uma coisa destas ou pior pudesse acontecer - Não vai nada. - disse para o tentar descansar apesar de saber que era mentira - Vamos dormir está bem? - perguntei dando-lhe um beijinho na bochecha.

Baixei o olhar quando ela me mentiu e apenas assenti à sua pergunta enfiando dentro das minhas mantas, que pelo menos isso era bom, porque eram quentinhas. Fechei os olhos e encostei-me a Piper levantando o olhar até ela - eu gosto de ti - murmurei não sei se alto o suficiente, mas para além de já não falar à muito tempo e ser estranho, nunca tinha dito algo do género a ninguém.

Enfiei-me dentro das mantas depois do Oliver fazer o mesmo e encostei-me ao corpo dele o máximo que conseguia, para me sentir mais quentinha e mais segura. Estava de olhos fechados quando o ouvi falar apesar de ele ter falado baixo, aquela casa era super silênciosa. Sorri e abri os olhos, levantando a cabeça de seguida - Eu também, Oliver. Obrigada por tudo o que já fizeste por mim e por seres meu amigo. - sorri novamente e beijei-lhe a bochecha.

Olhei-a quando me agradeceu e sorri encostando-me de novo a ela com um encolher de ombros. - Não fiz nada de mais - murmurei olhando para os eu braço magoado e passei os dedos, sem fazer força, pelos mesmos suspirando levemente. Eu sabia que era má ideia, mas nunca iria deixa-la ir sozinha. Levantei o olhar para ela e estiquei-me até lhe beijar a testa.

- Fizeste sim. - disse-lhe com cara de má por ele me estar a contrariar - A maioria das pessoas da clínica.. bem, elas são malucas mas não se dão comigo. - encolhi os ombros - Eu acho que faço coisas que não me lembro depois, como a nossa fuga. - expliquei mordendo o lábio inferior - Por isso obrigada por me ajudares e seres meu amigo mesmo sabendo que eu sou estranha. - agradeci com um sorriso.

Sorri levemente quando ela disse que fazia coisas que não se lembrava e assenti devagarinho permanecendo calado porque não sabia se devia dizer, achava que era melhor ela descobrir por ela, com alguns empurrões da minha parte. Só não queria que ela virasse Roxanne. - A maior parte das pessoas tenta falar lingua gestual comigo, tu és a única pessoa que fala - disse com um meio sorriso.

Encostei o meu queixo ao peito do Oliver para ficar a olhar para ele enquanto o ouvia falar. Sorri com o que ele disse e encolhi os ombros - Eu sabia que tu me percebias quando eu falava. - expliquei ao mesmo tempo que passava a pontinha dos dedos pelo maxilar dele, distraidamente - Mas ainda bem que falas. Gosto de te ouvir falar apesar de ainda ser meio estranho. - sorri - Estava habituada a que escrevesses e fizesses gestos.

Sorri levemente quando ela disse que era estranho eu falar e encolhi os ombros. Era ainda mais estranho para mim que de um momento para o outro comecei a fazê-lo com tanta facilidade. Abracei-lhe o corpo e baixei a cabeça na sua direcção até lhe beijar a ponta do nariz e, irracionalmente desci também para a sua boca.

Sorri enquanto o olhava e encolhi os ombros - Mas não é estranho num mau sentindo, só ainda não estou habituada. - fechei os olhos com o beijinho do Oliver no meu nariz e ia abri-los mas nem tive tempo de o fazer porque ele desceu de seguida os lábios para os meus. Cheguei-me mais para cima dele para o conseguir beijar e apronfundei o beijo lentamente. Não sabia porque é que me sentia assim quando estava com ele. Era como se o conhecesse bastante bem apesar de saber que nem por isso.